Entenda como o adiamento dos leilões impacta o mercado de Óleo e Gás brasileiro

  • 30/11/2020
  • 9 minutos

A pandemia da Covid-19 afetou todos os setores da economia global e isso não seria diferente para aqueles que servem de infraestrutura para que o mundo como um todo funcione.

O adiamento dos leilões de petróleo no Brasil, portanto, não foi uma surpresa. Mas é um momento complexo que exige dos profissionais da área preparação, eficiência produtiva e, principalmente, informação sobre o panorama atual.

Para ajudá-lo a entender pelo que estamos passando, convidamos Celso Magarão Costa, da área de Inteligência de Mercado e Desenvolvimento de Negócios da Wilson Sons, para responder a todas as dúvidas sobre o momento e o que podemos esperar para os próximos anos. Acompanhe!

Qual é a atual situação dos leilões de petróleo?

Um cenário pandêmico como nunca antes visto no mundo obviamente afetaria as próprias fundações da economia global.

A preocupação em manter a população em casa para achatar a curva de contágio, as restrições de circulação de pessoas e do comércio, tudo isso levou a uma redução geral de indicadores de mercado — dos menores países até as grandes potências.

E, claro, tal impacto é sentido ainda mais nos setores que servem de base para o funcionamento de todos os outros. Com uma brusca redução inédita na demanda por petróleo, o setor de O&G (Oil & Gas) foi um dos mais afetados.

Menos movimento de veículos e carga resultou na derrubada do preço do barril. Em poucos dias, o valor que estava em 60 dólares chegou aos 20, para estabilizar em 40, algumas semanas depois.

Com o passar do tempo, o próprio mercado vem se acalmando e iniciando a recuperação que deve acontecer para valer apenas após o registro para uso de vacinas contra o novo coronavírus. Mas as atitudes tomadas, como decisões sobre os leilões de petróleo, ainda têm de ser discutidas.

Por que está havendo o adiamento dos leilões de petróleo?

A sétima rodada de leilões por regime de partilha, que aconteceria no fim de 2020, foi adiada pelo governo em abril, em resposta às oscilações do mercado e a dificuldade de prever resultados a um curto prazo.

Com o acordo para diminuição de produção e preços pouco competitivos, era natural que não se considerasse o momento viável para realização desses procedimentos. Mas essa não foi a única razão para os adiamentos.

Segundo Celso, a discussão regulatória dos leilões no Brasil pode ter reforçado a necessidade de governo e entidades passarem essas datas mais para a frente. Para ele “o atual cenário do Brasil é um pouco complexo porque antes havia modelos de concessão, partilha e cessão onerosa. Agora, só tem a concessão e partilha, e isso, para o modelo jurídico, era um pouco confuso. A maior parte prefere apenas o modelo de concessão”.

Por isso, até os próprios gestores no setor preferem o tempo para aparar arestas quanto à discussão. 

Existem ainda outros impasses neste momento. Ano passado, quatro áreas foram leiloadas em cessão onerosa. “A Petrobras pagou pelo direito de explorar um bilhão de barris e depois descobriu-se que tinha muito mais óleo que o projetado anteriormente. Isso gerou um excedente com uma parte licitada,” Celso explica.

Ainda há incerteza jurídica de como serão pagos os custos da Petrobras sobre o que ela já havia investido. Além disso, a incerteza sobre os leilões de Sépia e Atapu (previstos agora para o 3º trimestre de 2021) complicou ainda mais o calendário de leilões no Brasil.

Quais os impactos a curto prazo desses adiamentos?

Os maiores impactos para o setor de Óleo e Gás já estão sendo sentidos, com a redução da produção e a suspensão de projetos na espera das novas datas para os próximos leilões.

A expectativa do setor atual, inclusive a mesma opinião do líder de inteligência de mercado da WS, é que a 17ª rodada de concessão e a 7ª rodada de partilha fiquem mesmo para 2021.

O momento não é de desespero, mas de atenção. A melhor abordagem para as empresas tem sido o corte em investimentos a curto prazo e foco na estabilidade operacional, enquanto a pandemia ainda é uma realidade.

O ponto mais positivo a ser levado em conta é que o grande baque inicial já ficou para trás. Aos poucos, as instituições no setor reorganizam a produção de Óleo e Gás e voltando-se a áreas já concedidas que estão esperando para serem exploradas.

Portanto, talvez seja um momento importante de reavaliação de projetos e de uma retomada em breve para o desenvolvimento maior do mercado brasileiro.

Quais são os maiores desafios para as empresas no setor?

Muitos desafios que estão sendo enfrentados atualmente já existiam bem antes da pandemia, como a própria complexidade do sistema brasileiro para gestão e concessão dessas áreas a serem exploradas.

“A região do pré-sal tem uma regra, que não é a mesma de outras regiões. Além disso, há a ineficiência de análise e resposta dos órgãos ambientais. Isso acaba afastando alguns investidores,” Celso explica.

Mas essas questões poderão ser superadas em breve, em paralelo à recuperação pós-pandemia. A Câmara aprovou no fim de julho a urgência para a votação da Nova Lei do Gás, que deve facilitar o desenvolvimento de reservas e modernizar a legislação brasileira.

É uma chance para aumentar ainda mais o volume e a eficiência de uma matriz energética que deve ganhar força nos próximos anos como um combustível de transição no mundo — além de dar mais previsibilidade para a geração de energia elétrica.

Qual é a perspectiva para o futuro do setor de Óleo e Gás no Brasil?

O que vemos é que, mesmo no meio da crise, o setor de O&G está encarando seus desafios de frente. Com uma sintonia bem-gerenciada entre órgãos públicos e grupos privados, é possível retomar o desenvolvimento e apontar o país para um caminho entre os líderes energéticos do mundo.

Não estamos dizendo que os impactos não serão sentidos. Celso mesmo prevê que esses adiamentos dos leilões de petróleo causem consequências que serão percebidas mesmo em três a cinco anos no mercado, uma vez que todo o processo costuma ser demorado.

Mas, amortecendo os maiores impactos e enxergando as oportunidades para o futuro, o setor aponta para uma dependência cada vez menor da Petrobras, mais competitividade e, por consequência, desenvolvimento de todos no mercado, ainda com o adiamento dos leilões de petróleo.

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