[INFOGRÁFICO] Os impactos da chuva no embarque e desembarque de mercadorias nos portos brasileiros

  • 09/01/2019
  • 10 minutos

Chuva e mau tempo trazem consequências diretas para diversos setores da economia. E um dos que mais sofre é, justamente, o de transporte marítimo. As mudanças climáticas obrigam as empresas a se organizarem para não perderem recursos e manterem seus prazos intactos, dentro da medida do possível. Mas você sabe quais são os impactos da chuva no embarque e desembarque de mercadorias?

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A grande questão é que existem cargas que podem ou não ser impactadas pela chuva, tanto pelo material com o qual são fabricados, quanto pela forma de transporte exigida. É por isso que qualquer carregamento tem uma sinalização no contrato de afretamento que informa as restrições climáticas existentes.

Além disso, são incluídas cláusulas comerciais que podem favorecer o armador ou o afretador, sendo que, na maioria das vezes, estas modificações contratuais tentam chegar a um meio termo para que ninguém fique no prejuízo, devido à dedução de horas de chuva no cálculo do afretamento. Nessa hora, é importante buscar maneiras de conseguir uma boa negociação no seu frete marítimo.

Navio parado, dinheiro perdido

Infelizmente, alguns produtos não podem mesmo ser transportados sob chuva, o que traz impactos profundos na logística e na geração de negócios. Em alguns portos brasileiros são registrados até 110 dias de chuva por ano, o que significa que esses locais podem ter suas atividades suspensas por até um terço do ano. É bastante coisa!

Quando um navio fica parado no porto sem poder operar devido à chuva, toda a cadeia logística sofre as consequências. “Os estivadores sindicalizados, por exemplo, não podem trabalhar e, como sua remuneração é vinculada à quantidade de toneladas de carga movimentada a cada período, eles ficam sem receber”, afirma Philip Leslie, shipping manager de Santos e São Sebastião (da Wilson Sons).

Ele explica, ainda, que há também o restante da cadeia. “Sem produtos, não é possível realizar negócios e sem negócios, não há lucratividade. Ou seja, o navio parado afeta toda a roda que faz a engrenagem girar”, ressalta.

Mas não são apenas esses os prejuízos trazidos pela chuva. Além do risco de perder produtos que são mais suscetíveis ao mau tempo, ainda existem as multas por atrasos na entrega, principalmente em casos nos quais não foi possível prever a presença da chuva.

Produtos que podem ou não ser manuseados sob chuva

Como já foi mencionado, existem produtos mais ou menos sensíveis à água. Essa informação, em geral, consta nas embalagens e dos contratos entre as empresas, conforme já vimos até aqui. Mas, quais seriam estes produtos?

Em relação à resistência à água, as grandes campeãs são as cargas rolantes (roll on e roll off), carregamentos de sal e enxofre a granel, cargas que passam pelo sistema de dutos, muito comum nas indústrias de óleo e gás. Também estão nessa categoria as cargas vivas de animais, ou navios que operam suco de laranja e alguns produtos siderúrgicos.

Porém, existem mercadorias que não são amigas da água e, por isso, exigem cuidados para serem transportadas. E, em alguns casos, dependendo da intensidade da chuva, é necessário aguardar a melhora do tempo. Neste caso, fertilizantes, celuloses com capa, carbonato de sódio e bobinas de papel jornal podem ser operados sob chuva fina, desde que haja autorização do fabricante e que todos estejam cientes dos riscos envolvidos.

Caso haja anuência de todos, é produzido um documento chamado “carta de chuva”, que, basicamente, isenta o comandante do navio da responsabilidade pela perda da carga, caso ela sofra os efeitos da precipitação. Mas também existem aqueles produtos que em nenhuma hipótese podem ser operados sob chuva. É o caso do sulfato de sódio, açúcar, milho, farelo de milho, trigo, cloreto de potássio e soja, entre outros.

Ainda assim, é importante ressaltar que a conteinerização de mercadorias possibilita que algumas operações mais complexas possam ser realizadas até mesmo sob chuva. Isso é possível principalmente devido à estanqueidade dos cofres de carga, combinada com a proteção plástica existente dos contêineres conhecidos como “open top“.

O auxílio da previsão de chuva

Se a chuva é um desafio para o transporte marítimo nos dias de hoje, imagine só como era antes da chegada da tecnologia. De acordo com Philip Leslie, atualmente, com sensores, radares e até mesmo balões que carregam instrumentos e satélites, é possível prever não apenas o local onde a chuva vai cair. “Hoje, podemos saber o horário exato, a intensidade e a duração da precipitação”, ressalta o profissional da Wilson Sons.

No caso do transporte marítimo, os operadores já possuem o hábito, muitas vezes, como rotina de trabalho, de consultar os sistemas de previsão do tempo antes mesmo de requisitar o trabalho para determinado produto. Com isso, é possível precisar horários e programar a melhor logística possível, evitando prejuízos desnecessários.

Além disso, os portos trabalham com um sistema de engajamento de turno, que nada mais é do que um horário limite para a definição da ordem de engajamento para o carregamento. Geralmente, esse limite ocorre cerca de duas horas antes do início de cada turno.

A cobertura no Porto de Santos

Para tentar minimizar os efeitos da chuva no transporte marítimo, alguns portos vêm investindo em tecnologias que permitam que o embarque seja realizado até mesmo sob condições adversas. O Porto de Santos, por exemplo, planeja investir cerca de 20 milhões de reais na instalação de uma cobertura, que permitirá que os terminais continuem operando em qualquer situação climática.

Os projetos desenvolvidos ainda estão em fase de estudos. A primeira opção é a instalação de uma estrutura fixa sobre os berços de atracação, podendo haver também a construção de uma cobertura retrátil que se estenda até os porões dos navios.

O grande desafio do projeto é a amplitude das coberturas, já que elas precisam abranger uma altura de 70 metros, o que equivale a um prédio de 21 andares. Isso representa um enorme desafio de engenharia, já que a estrutura precisará ser resistente a ventos fortes, e também ao escoamento pluviométrico no cais.

Os estudos também levarão em consideração a chuva lateral, que vem a ser aquela influenciada pelo vento. Esse fenômeno, contudo, não será evitado pela cobertura, exigindo novos projetos.

Como você viu, os impactos da chuva no embarque e desembarque de mercadorias são grandes, mas podem ser evitados com um bom trabalho de logística, aliado à tecnologia e à previsão cada vez mais precisa das condições climáticas. Caso você tenha alguma dúvida ou sugestão sobre o tema, participe deixando seu comentário ao final do post.