Fumigação: o que é e qual a sua função na operação de grãos?

  • 10/05/2022
  • 13 minutos

Você seria capaz de levar da gôndola de um supermercado um pacote de feijão infestado de insetos? Com apenas essa frase você consegue entender a importância do cuidado com as cargas no porão de navios graneleiros.

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Por isso, hoje vamos abordar um processo dentro do preparo da carga a granel para comercialização, principalmente quando falamos em exportação marítima: a fumigação.

Para nos ajudar a compreender essa técnica e seu funcionamento, convidamos dois especialistas no assunto: Philip Leslie, Shipping Agency da Wilson Sons, e Marcus Vinícius John Leque, engenheiro da Ecotec Brasil Tratamentos Fitossanitários. Acompanhe!

O que é fumigação?

A fumigação é um procedimento químico realizado em cargas a granel com o objetivo de eliminar insetos que possam depreciar a mercadoria ou apresentar risco ao produto ou às pessoas que o manuseiam e consomem.

É feita por via seca, utilizando compostos químicos em estado gasoso que preenchem um ambiente hermeticamente fechado de armazenamento da carga e, assim, conseguem penetrar e agir em todas as áreas livres, por menor que seja o espaço entre os grãos.

Alguns exemplos de fumigantes utilizados no Brasil são Fosfina e Brometo de Metila, utilizados cada um em situações mais adequadas e ambos homologados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Qual é a sua função principal?

Segundo Vinícius, especialista nesse tipo de procedimento, “o objetivo é eliminar insetos que neles se encontram, nas diversas fases do seu ciclo evolutivo, em locais hermeticamente fechados, através de gases tóxicos aos mesmos”.

Com a vedação do ambiente de armazenamento, é possível alcançar resultados ótimos de controle de pestes e pragas sem pôr em risco a saúde humana. Com um produto livre de agentes nocivos, após a ventilação da carga, a fumigação garante a qualidade, a durabilidade e a confiabilidade sobre o granel a ser exportado.

Como ela funciona na operação de grãos?

A fumigação pode ser realizada em diversos momentos da logística entre a colheita e a chegada dos grãos ao seu destino. Porém, pelas necessidades de mercado e pela facilidade maior de controle e ajuda de serviço de inteligência portuária, ela geralmente é realizada já nos portos, logo após o término do embarque para afretamento marítimo (maritime chartering).

Esse procedimento é feito diretamente no ambiente de armazenamento da carga, como silos, galpões e contêineres. É um procedimento que precisa de atenção ao cronograma para evitar atrasos e prejuízos para todas as empresas envolvidas.

“A fumigação de cargas é costumeiramente realizada no porto de embarque, para que quando o navio chegar ao porto de descarga já tenha decorrido o tempo necessário para garantir condição segura da carga e (muito importante) o trânsito de pessoas no entorno do porão” explica Philip.

Portanto, após a aplicação e atuação do gás fumigante, a atenção se volta principalmente para a dispersão do agente químico por meio da sua exaustão para a atmosfera. “É necessário, por motivo de segurança operacional, que todos os tubos de ventilação (manholes) onde sistema de recirculação de ar são instalados estejam acessíveis”.

Em alguns casos, inclusive, são utilizados sopradores (blowers) que permitem a entrada de ar fresco e a dissipação do produto. Quando o nível de concentração retorna a valores seguros, a carga está livre de agentes nocivos e liberada para manuseio com segurança quando alcançar o porto para descarga.

Por que essa técnica é importante?

A fumigação não só é um processo determinado por órgãos regulamentadores de diversos países, como exige um planejamento e uma execução eficientes para trazer vantagens comerciais — principalmente para quem exporta.

Para você entender a relação fundamental entre o bom uso da fumigação e ganhos competitivos, veja alguns exemplos do que essa preocupação traz para a rotina do mercado internacional.

Atendimento a normas e leis de diversos países

A fumigação é um processo determinado e regulamentado na legislação comercial de grãos em praticamente todos os países do mundo, com variações apenas em parâmetros e uma ou outra limitação em relação aos fumigantes utilizados. É um status chamado de fitossanidade.

Portanto, contar com o procedimento é garantir o desembaraço e transporte rápidos de granéis até o porto de destino e a entrada desses produtos com apoio de acordos comerciais e condições melhores de negociação.

Controle de pragas em longa escala

A fumigação não é apenas um processo importante para o comércio, mas também para a saúde pública e o controle ambiental. Muitos desses agentes, como insetos e até micro-organismos, podem se tornar uma ameaça a curto prazo.

Isso porque formas de vida presentes em um país podem se desenvolver e se tornar uma ameaça ao equilíbrio ambiental em outro ecossistema. Uma espécie controlada pode se transformar em uma praga quando introduzida em outro meio.

Isso é vital para manter a saúde de pessoas, animais e plantas em todo o mundo, impedindo a migração descontrolada de agentes nocivos.

Redução de desperdícios

Um dos grandes problemas de alimentação no mundo inteiro está nos níveis de desperdício de carga durante o transporte do produtor até a mesa do consumidor.

Combater pestes e pragas diminui essa perda consideravelmente, impedindo que a proliferação desses organismos signifique uma redução de qualidade para o consumo humano. Quanto mais eficiente e seguro é esse tipo de procedimento, melhor é a distribuição global de alimentos.

Minimização de prejuízos logísticos

Seja na perda de carga ou de tempo, a fumigação ineficiente pode resultar em prejuízos para a empresa exportadora. Um exemplo disso é a perda de peso no porão, pois a soma de milhares de organismos faz uma diferença notável na massa, sem contar a redução de seu valor comercial.

E existem, ainda por cima, os gastos logísticos. Como Philip aponta, “alguns navios são reprovados na inspeção do Ministério da Agricultura no porto de destino, o que gera grandes prejuízos. O navio precisa ser novamente fumigado e aguardar no fundeadouro vários dias até o princípio ativo da fumigação permitir que porões sejam reabertos”.

Melhoria da imagem de qualidade para o consumidor final

Todas essas questões podem se apresentar como desafios no transporte marítimo internacional da carga, mas a fumigação mal realizada vai muito além disso.

Um grande perigo para o produtor é perder oportunidades de mercado com uma imagem negativa sobre seus grãos. O resquício de pragas na carga, além do próprio uso equivocado de fumigantes, pode causar alteração da cor e do sabor e resultar inclusive em infestação de produtos já acabados e embalados — que cheguem nesse estado às mãos do consumidor final.

Empresas com esse tipo de ocorrência encontram mais dificuldades em negociações para atender os mercados mais exigentes, o que pode limitar as oportunidades de crescimento.

É a prova de que, como todos os procedimentos envolvendo o comércio internacional, a fumigação bem-feita significa qualidade, segurança e uma boa imagem do negócio no mundo inteiro.

Que aspectos devem ser considerados ao escolher uma fumigadora?

Para ter uma operação bem-sucedida é preciso contar com as parcerias certas e ter atenção nos detalhes. “Um dos pontos essenciais consiste em escolher fumigadoras credenciadas pelo Ministério da Agricultura, para garantir a eficácia do tratamento”, afirma Marcus Vinícius.

O engenheiro complementa que também é interessante buscar aquelas que são reconhecidas por outros standards internacionais, como Grain and Feed Trade Association (GAFTA). Afinal, no caso da aplicação de agrotóxicos, sobretudo em graneleiros, é de suma importância promover a segurança da tripulação contra intoxicações e proteger a própria carga que, em caso de altas temperaturas, umidade, ou má distribuição do fumigante, pode estar sujeita a incêndios e explosões.

Quer entender mais sobre como essa logística portuária influencia no seu sucesso? Então confira este artigo sobre armazenagem e movimentação de carga nos portos!