O que explica o grande volume de exportação de açúcar em 2020?
- 26/11/2020
- 10 minutos
O ano de 2020 foi marcado por um grande volume de exportação de açúcar. Ainda que esse seja um fato interessante aos profissionais da área, é importante saber quais foram os motivos por trás dele. Assim, os impactos causados no setor ficam mais claros, o que possibilita o alinhamento correto das estratégias futuras.
Para compreender melhor esse cenário, entrevistamos dois especialistas: Matheus Costa, analista de inteligência de mercado em Açúcar e Etanol da Stonex, e Emanuel Andrade, agente marítimo (shipping agent) e executivo comercial. Eles trouxeram informações que clarificam o panorama e solucionaram algumas dúvidas.
Portanto, se você deseja se informar sobre as tendências do setor, não deixe de conferir este artigo!
Como foi a exportação de açúcar no início de 2020?
Enquanto o primeiro quadrimestre do ano de 2019 resultou no embarque de 4,5 milhões de toneladas de açúcar bruto e refinado, 2020 surpreendeu. Os dados deste ano apontam que o valor chegou a 5,85 milhões nos quatro meses iniciais — e promete um aumento de 18,5% na safra 2020/21.
A Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, responsabiliza alguns fatores pelo total esperado de 35,3 milhões de toneladas. Entre eles, é possível citar:
- quebra nas atividades mundiais relacionadas ao setor;
- real desvalorizado em relação ao dólar;
- produção ampliada;
- vendas antecipadas etc.
Mas será que os especialistas concordam com esses apontamentos? Segundo Costa, é preciso pensar na conjunção de todos os fatores e nos impactos diretos que eles causaram no volume de exportações. Confira.
Por que houve esse aumento?
Tanto Costa quanto Andrade acreditam que os pontos citados pela Conab se relacionam, de fato, com uma maior exportação marítima de açúcar. Eles aprofundaram cada tópico, trazendo perspectivas interessantes e capazes de otimizar o preparo do setor para os próximos meses.
Produção reduzida
Grandes players passaram por situações que reduziram suas atividades. Com isso, o Brasil conseguiu ampliar seu espaço no mercado. O principal destaque foi a Tailândia, que registrou forte quebra de safra, o que deve pesar sobre suas vendas internacionais. Outro exemplo nesse sentido é o México: o país teve uma safra menor em comparação às expectativas iniciais. Dessa forma, acabou deixando de suprir parceiros internacionais, como os EUA — importante nome na compra do açúcar.
Costa explica a situação de maneira pontual: “os países que começaram a colher em outubro tiveram uma retração significativa da produtividade das matérias-primas. Isso acabou pressionando o excedente exportável”.
Condições climáticas
Um dos principais motivos por trás da redução na produtividade de produtores globais foi o clima. A Tailândia é um exemplo dessa realidade. Em função de uma das maiores secas dos últimos anos, seus canaviais foram impactados e resultaram em um volume aquém do observado em safras anteriores.
O profissional afirma: “nesse momento, suprimos polos que costumavam ser atendidos pela Tailândia. A Índia também está cumprindo esse papel”. Contudo, mesmo ganhando espaço no setor, Costa diz que os indianos não chegam a proporcionar uma concorrência expressiva. “O volume de exportação brasileira é muito maior. O Brasil, hoje, é a principal origem para comercializar com compradores internacionais”, complementa.
Preços atrativos do açúcar no mercado internacional
Os pontos citados, como efeitos do clima e produções abaixo do esperado, apresentaram ao mercado externo um preço atraente para negociação por produtores do Brasil. Além do real desvalorizado em relação ao dólar, a flexibilidade das usinas do Centro-Sul ampliou o mix açucareiro, permitindo que as empresas ampliassem sua produção em um cenário de déficit produtivo no mercado global.
Vendas domésticas de etanol
Com os problemas enfrentados pela indústria de etanol, como a perda de competitividade, a produção de açúcar foi maximizada. Costa explica: “os preços até recuaram um pouco com a maior oferta brasileira. Contudo, apesar da queda, o câmbio brasileiro elevado limitou os efeitos sobre as cotações em R$/t (real/tonelada)”.
Andrade também fala sobre o tema. Para ele, com a crise internacional dos combustíveis potencializada pela pandemia, os preços do etanol foram influenciados para baixo. “Isso favoreceu a escolha do açúcar no mix de produção das usinas, impulsionado por quebra de safra entre países competidores”, completa.
Pandemia
Segundo Andrade, a influência do coronavírus traz um impacto visível no volume de exportação de açúcar. “Muitos especialistas do mercado sucroalcooleiro afirmam que foi um fenômeno de ‘tempestade perfeita’ para o açúcar brasileiro”, diz ele.
Ainda que alguns efeitos sejam inevitáveis, nem todas as áreas foram afetadas, o que também maximizou a produção brasileira. “Em relação à originação do açúcar e ao escoamento até os portos, não foram percebidos impactos significativos por conta da pandemia. Além disso, os embarques têm se mantido intensos e regulares”, comenta.
O que esperar da exportação de açúcar nos próximos meses?
Entender quais são as expectativas futuras é fundamental a fim de que os profissionais considerem estratégias de manutenção dos números em alta. Segundo Emanuel Andrade, o país já é um destaque no açúcar proveniente da cana. Contudo, é preciso ponderar as variações do mercado internacional para se manter assim.
Destaques futuros
É interessante ter em mente que a cana não é a única matéria-prima disponível na produção do açúcar. A beterraba também se destaca e deve se tornar um foco no Brasil. Outros fatores — as ofertas de países competidores, melhorias climáticas em polos e alterações na disponibilidade do açúcar de beterraba, por exemplo — foram citados como focos de atenção para a estabilidade, juntamente aos diversos usos da cana.
“Um fato positivo ao Brasil, além dos baixos custos, é a versatilidade desse produto. Ele conta com múltiplas aplicações além do açúcar propriamente dito e do etanol, como a composição do bagaço em pellets, trazendo novas fontes de energia sustentável”, conclui o shipping agent.
Possíveis parceiros
Matheus Costa, por sua vez, pede atenção à China e à União Europeia na busca por melhores resultados. Enquanto o primeiro é um país que voltou a comprar volumes significativos do Brasil em breve, considerando que suas atividades internas não suprem as demandas, o segundo se destaca pela possibilidade de prejuízo às produções de beterraba, dadas as condições climáticas desfavoráveis e a infestação de pragas. Novamente, o produto brasileiro poderia se mostrar interessante a compradores europeus.
A exportação de açúcar aumentou no ano de 2020 e tende a continuar elevada em 2021. Para isso, é interessante se manter atualizado sobre as mudanças no mercado global e nacional, focar em potenciais novos parceiros e acompanhar as relações de importação e exportação da área. Bons resultados podem advir dessas atitudes. Assim, “na colheita de 2021, o Brasil deve continuar com mix fortemente açucareiro, embora o share possa ser inferior ao que tem sido observado em 2020”, conclui Costa.
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