A logística para movimentação de fertilizantes no Brasil

  • 19/04/2022
  • 12 minutos

O Brasil é um país de dimensões continentais devido a sua grande extensão territorial, ocupando uma área de 8.514.876 quilômetros quadrados na América do Sul. O agronegócio é um dos segmentos mais importantes da economia, responsável por movimentar grandes volumes de exportações, representando mais de 25% do Produto Interno Bruto brasileiro. Nos últimos 40 anos, a produção de grãos cresceu mais de seis vezes, enquanto a área plantada apenas dobrou, resultado do uso de tecnologia e de fertilizantes nas plantações. A maior cultura agrícola brasileira é a soja, que demanda mais de 40% dos fertilizantes no Brasil movimentados. Quer saber mais sobre como funciona a logística para a movimentação dos fertilizantes? Acompanhe:

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Quarto maior consumidor de fertilizante do mundo

A partir do mês de abril, as importações das cargas de fertilizantes no Brasil começam a aumentar com a finalização da colheita da soja e acompanham o ritmo de exportação dessa oleaginosa, do milho e do algodão. Esse tipo de carga utiliza a modalidade de frete de retorno, visando a diminuição do custo logístico, ou seja, movimenta-se em direção aos portos com os grãos e retorna para as regiões produtoras com os fertilizantes.

O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking de consumidores globais de fertilizantes, sendo responsável pela aquisição de 8% da produção mundial. Cerca de 80% dos adubos consumidos pelos brasileiros são de origem estrangeira e chegam via marítima, vindos de países produtores, como Rússia, Canadá, Bielorrússia, China, Israel, Marrocos, Argélia, Egito, Alemanha e Estados Unidos.

De acordo com o Boletim Logístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, a importação de fertilizantes em 2021 foi recorde, atingindo a marca histórica de 41,6 milhões de toneladas internalizadas de janeiro a dezembro. O volume supera em média 18% do total entregue em 2020, que, por sua vez, já havia aumentado 13,2% em relação ao ano anterior.

Previsões otimistas para 2022

Apesar do forte aumento nos preços médios dos fertilizantes, devido ao incremento dos combustíveis no mercado mundial, além das incertezas sobre o abastecimento de players importantes, como China e Rússia, a previsão é que o ano de 2022 repita os grandes volumes registrados no ano passado. Hoje, na Wilson Sons – maior operador integrado de logística portuária e marítima do mercado brasileiro, com mais de 180 anos – o segmento é a terceira maior commodity mais movimentada.

Os principais terminais receptores de fertilizantes no Brasil estão na região Sul, nos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná; no Sudeste, no estado de São Paulo; e no Norte e Nordeste do país, no eixo chamado Arco Norte, importante corredor logístico de commodities agrícolas para o mercado internacional.

Os portos de Paranaguá, São Francisco do Sul e de Rio Grande, na região Sul, de Santos, em São Paulo (Sudeste), e de Itaqui, no Maranhão (Arco Norte) foram responsáveis por 88% do volume total de fertilizantes importados no país. O Porto de Santos, maior complexo portuário da América Latina, movimentou 10,1 milhões de toneladas em 2021 contra e 6,6 milhões em 2020, alta de 53%, de acordo com dados do Conab. O principal destino da carga é a região Centro-Oeste, maior produtora de grãos do Brasil.

Novas rotas, custos menores

Dados do Ministério da Agricultura do Brasil mostram que o principal estado importador de fertilizantes é o Mato Grosso, no Centro Oeste brasileiro, que recebeu cerca de 8 milhões de toneladas de adubos em 2021. A maior parte da carga, no entanto, chegou pelos portos de Santos e Paranaguá, localizados a mais de 2.000 quilômetros da região. Essa logística tem gerado alto custo do frete, causando intenso fluxo de caminhões, uma vez que o transporte de fertilizantes entre estados brasileiros é feito primordialmente pelo modal rodoviário, de acordo com a agência reguladora de transportes terrestres do governo federal.

Como alternativa para diminuir o custo logístico desse produto de alto valor agregado, os produtores rurais mato-grossenses têm buscado novas rotas, como o eixo logístico do Arco Norte. Os volumes de fertilizantes recebidos nos portos da região no ano passado representaram 29,1% do volume importado para atendimento do Mato Grosso.

O eixo logístico do Arco Norte

O Arco Norte apresenta grande potencial portuário, principalmente, após a conclusão da BR-163, que liga o Sul ao Norte do país. A área abrange sete portos brasileiros, sendo um no Nordeste – Itaqui, no estado do Maranhão – e seis na região Norte: Porto Velho, Miritituba, Santarém, Barcarena, Itacoatiara e Manaus. No total, as cargas de fertilizantes movimentadas por esses terminais portuários registraram alta de mais de 30% em 2021. Além do Mato Grosso, os produtos seguiram também para a região do Matopiba, que inclui os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, no Norte e Nordeste brasileiro.

Com a maior participação do Arco Norte na exportação de milho e soja, é esperada uma maior movimentação de fertilizantes nos próximos anos, com a utilização da modalidade de frete de retorno. Entre os fatores que favorecem o desenvolvimento dos portos da região, estão a grande capacidade de expansão da área portuária e retroárea dos terminais, calado favorável para receber navios de maior porte, que são uma tendência da navegação mundial, e a proximidade com o canal do Panamá, o que pode encurtar em cerca de 11 dias as viagens para a Ásia.

Em 2021, o destaque entre os portos do Arco Norte na importação de fertilizantes foi Itaqui, em função de sua infraestrutura de embarque e desembarque, movimentação de cargas e acesso rodoviário e ferroviário. Itaqui movimentou 38% do total recebido pelos sete terminais que formam esse eixo logístico.

O porto do Maranhão tem localização privilegiada e está a 15 dias de distância da Europa. Apesar de sofrer com um longo período de chuva, característico da região, o que aumenta significativamente o tempo de espera dos navios no fundeio, em torno de 25 dias, Itaqui teve um crescimento de 19%, em 2021, no volume de fertilizantes. O terminal conta com cinco berços disponíveis para movimentação de granéis sólidos e, em 2022, haverá a homologação de um novo berço operacional.

Soluções para os produtores rurais

Importante destino de fertilizantes na região Sul do Brasil, o Porto do Rio Grande está no estado do Rio Grande do Sul, segundo maior importador do produto no Brasil, atrás apenas do Mato Grosso. O porto vem fomentando a importação de fertilizantes via contêineres, com bons resultados.

Os fertilizantes são transportados em big bags (grandes sacolas), capazes de carregar até uma tonelada do produto, dentro de contêineres reefer desligados. Esses equipamentos são utilizados para exportação de carne congelada e, como em sua maior parte retornavam vazios, a solução beneficiou tanto armador como o comprador do produto.

Os importadores têm três opções para a desova deste tipo de carga: entrega de big bags, com a carga sendo descarregada no pátio do terminal e enviada para o cliente; carga a granel, em que um adaptador instalado nas empilhadeiras possibilita a desova em big bags no caminhão de forma eficiente e rápida; e desova a granel, basculando o contêiner nas instalações do cliente.

A solução tem sido adotada com sucesso pelos produtores rurais da região, que apontam benefícios, como melhores custos, mais independência para compra de seus produtos e maior eficiência no fluxo de caixa, com a possibilidade de manter estoques menores. Em 2021, o Porto do Rio Grande registrou aumento de 50% da movimentação de fertilizantes em contêineres em relação ao ano anterior.

Num cenário em que o Brasil vem batendo recordes de importação de fertilizantes, à medida que amplia a produção agrícola, soluções logísticas cada vez mais eficientes são necessárias tanto para exportação dos grãos como para importações dos insumos. Assim é possível desenvolver a cadeia produtiva como um todo, aumentando a competitividade nacional.

Que tal saber um pouco mais sobre como é feita a importação de fertilizantes no Brasil? Fique de olho no nosso blog!