Veja como é feita a gestão de resíduos em plataformas marítimas

  • 17/12/2020
  • 12 minutos

Quando falamos em operação de unidades como plataformas de petróleo, o foco do assunto sempre pende para a produtividade — quanto é extraído, a eficiência do trabalho gera o lucro esperado. Mas o que essas atividades deixam para trás quando o turno termina?

A gestão de resíduos em plataformas marítimas vem ganhando cada vez mais espaço no planejamento e nas discussões envolvendo o setor, principalmente na exploração de O&G.

Para contribuir ainda mais com essa importante discussão, convidamos Alberto Filho, supervisor de serviços ambientais nas Bases de Apoio Offshore da Wilson Sons, para discutir os pontos mais relevantes sobre esse procedimento. Confira.

A importância da gestão de resíduos no setor

Por muito tempo, as preocupações ambientais no setor de O&G eram muito voltadas para as suas atividades principais. E com razão, já que qualquer tipo de acidente envolvendo vazamentos em extração e transporte pode significar impactos trágicos para biomas marinhos e terrestres.

Aqui vale considerar que existe outra parte dessa equação que também começou a receber importantes investimentos nas últimas décadas: a gestão de resíduos derivados dessa produção.

Afinal, a própria natureza desse tipo de operação demonstra a preocupação que é necessária para lidar com o problema. Segundo o IBAMA, um pouco mais da metade dos resíduos sólidos provenientes de plataformas são potencialmente perigosos para seres humanos e o meio ambiente como um todo.

E, com o desenvolvimento de empresas especializadas nesse trato, uma segunda camada surgiu para um investimento ainda maior no gerenciamento da finalidade de resíduos. É uma busca por otimização e o reaproveitamento para diminuir o impacto ambiental e dar vida nova ao que antes seria descartado.

Por isso, a indústria do petróleo vem dando mais atenção ao procedimento, com tecnologia agregada, processos mais eficientes e parceria com empresas especializadas.

Como é feita a gestão de resíduos por toda a cadeia

Quando falamos de gestão de resíduos, estamos levando em conta toda sua cadeia, desde o armazenamento dentro das unidades marítimas até o transporte e o tratamento em terra.

Para que você entenda melhor como isso funciona, separamos todo o processo em seus pontos principais e destrinchamos um pouco como cada um funciona. Veja.

Tipos de resíduos produzidos por unidade marítima

Primeiro, precisamos definir o que são resíduos em unidades marinhas e suas categorias. Nesse caso, estamos falando sobre todo tipo de descarte proveniente da produção em si como também da rotina dos trabalhadores e do serviço de apoio.

Para fins de gestão, eles são divididos em classes:

  • Classe I — resíduos perigosos, que possam causar danos potenciais à saúde humana e ao meio ambiente;
  • Classe IIA — resíduos não danosos de característica não inerte, ou seja, são solúveis e podem causar alterações em contato com a água;
  • Classe IIB — resíduos não danosos, insolúveis e recicláveis, como papel, alumínio e madeira.

Processos de destinação e tratamento

Os procedimentos de destinação e tratamento de resíduos são determinados de acordo com a classe em que estão classificados. Tudo começa no armazenamento dentro da própria unidade marítima. Quando atinge-se um limiar ou um prazo, a equipe de Gerência de Serviços Ambientais recolhe e faz o desembarque em bases de apoio terrestre.

O trabalho principal é o de triagem. Alberto explica usando a lama de perfuração como exemplo de resíduo tratado:

Quando chega o material, temos que saber as características do produto. Separa-se o líquido do sólido e tentamos aproveitar ao máximo a água e o óleo. Fazemos o re-refino e a blendagem. Esse blend pode ir para uma cimenteira, para ser aproveitado. Quanto maior o poder calorífico do blend, melhor para a cimenteira que recebe.

A ideia é sempre essa, reaproveitar o que for possível e dar um destino adequado para o que não for — ou que for de responsabilidade de outras empresas terceirizadas.

Preocupação com a segurança

O maior aliado da segurança na gestão de resíduos é o controle. Por isso, toda esse tratamento é documentado desde a sua origem na plataforma até o destino final de cada classe.

Alberto dá alguns exemplos relacionados à parte de logística que demonstram essa preocupação. “Se mando 30 toneladas de lama, eles devem gerar um Relatório de Recebimento, e, depois do tratamento, tem o certificado de destinação final. E finalizamos esse projeto com os documentos para fechar a nota técnica com o IBAMA e o INEA.”

Por se tratar de resíduos potencialmente perigosos, as determinações governamentais são sempre levadas à risca.

“O nosso serviço que tem maior risco é da limpeza de tanque, em que todos têm capacitação NR33 (espaço confinado) e NR35 (trabalho em altura). São materiais oleosos etc., é preciso muito cuidado e oferecemos todas as proteções possíveis”, nos conta Alberto, que completa dizendo que nunca houve um grande acidente em seu trabalho.

Projetos de sustentabilidade

O reaproveitamento de resíduos é um dos focos inovadores nesse trabalho. É não dar apenas um fim, mas uma finalidade.

Um exemplo de que essa preocupação com o meio ambiente está sendo priorizada na indústria é a criação de programas paralelos que aproveitam essa infraestrutura para outros processos.

A Wilson Sons é um caso notável. A empresa criou uma campanha para receber óleo vegetal, pilhas e baterias da população para que elas sejam tratadas aproveitando os procedimentos e equipamentos já estruturados para lidar com a operação marítima.

As pilhas e baterias são reprocessadas e recebem uma finalidade segura para o meio ambiente, enquanto o óleo vegetal é reaproveitado.

O que se espera do desenvolvimento dessa gestão

Para Alberto Filho, essa crescente busca por tratamento de resíduos eficiente e seguro não deve parar. “Antigamente, o pessoal não dava muito valor a lixo. Hoje, as pessoas estão dando mais valor a isso. A sociedade está criando uma filosofia melhor sobre gestão de resíduo e tratamento de resíduo”.

A ideia é que ações de grandes indústrias como o setor de O&G reflitam no próprio comportamento da sociedade e a preocupação ambiental se torne uma motivadora de inovação, não um obstáculo a ela.

Para isso, investimentos ainda precisam ser feitos. Alberto cita a necessidade de licenciamento e desenvolvimento de infraestrutura para que os deslocamentos sejam menores e o tratamento possa ser feito em um único lugar.

Ou seja, assim como em toda a evolução do setor de O&G, o futuro da gestão de resíduos em plataformas marítimas está nas mãos da tecnologia. Processos mais eficientes, ferramentas mais inteligentes e estrutura de ponta. Não demora muito para chegarmos lá.

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