Qual a importância do mercosul para o setor portuário e marítimo brasileiro?
- 19/07/2022
- 11 minutos
Se o agenciamento marítimo tem papel fundamental no desenvolvimento comercial de um país, é muito comum que se pense inicialmente sobre essas relações de consumo ao redor de todo o globo. Mas qual é o papel do setor no relacionamento com nossos vizinhos do continente?
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Neste artigo, convidamos Rene Wlach, diretor comercial do Tecon Rio Grande, Unidade Wilson Sons, para falar um pouco sobre a importância do acordo do Mercosul para o crescimento de empresas no Brasil que querem expandir suas fronteiras. Acompanhe.
A cronologia do acordo Mercosul
Desde que o mercado começou a se tornar global no Século XX, países pelo mundo inteiro começaram a notar a necessidade de alinhar objetivos e demandas produtivas para ganhar força na negociação e desenvolvimento industrial em todo o planeta.
Nesse sentido, os últimos 100 anos foram marcados por essa aproximação entre governos e setor privado que diminuem barreiras entre fronteiras. Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), União Europeia e Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) são alguns exemplos de acordos econômicos e políticos que dominaram a dinâmica de mercado no período.
Em consequência a esse movimento, foi natural a criação de um bloco internacional que fizesse o mesmo pelos países do Cone Sul da América. O Mercado Comum do Sul, conhecido como Mercosul, foi assinado em 1991 para integrar de maneira mais prática as economias da maioria dos países do subcontinente, encabeçados por Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina.
Esse movimento se mostrou muito importante para o desenvolvimento comercial de todo o bloco, que passou a ter livre comércio e trânsito de cidadãos entre fronteiras e uma articulação maior para negociação conjunta no mercado.
É exatamente esse poder que pode e deve ser explorado pela logística de transporte marítimo para criar ainda mais oportunidades a negócios dentro do Brasil.
A importância do acordo Mercosul para o setor portuário/marítimo brasileiro
O Brasil, como maior país do bloco, tem papel de protagonista e de liderança desde a criação do Mercosul. É, dentre os integrantes, não só o maior PIB, mas o que mais investe em logística e comércio internacional, incluído o afretamento marítimo.
Afinal, como o próprio Rene comenta, o porto é a principal porta de entrada e saída de riquezas de uma nação. É uma via essencial para quem quer investir em comércio internacional.
E este é um ponto interessante de analisarmos ao falar do Mercosul. Muitos empresários e profissionais que lidam com vendas para outros países associam logo o transporte marítimo a longas distâncias. Porém, o modal pode ser muito mais interessante que outros também na criação de vínculos comerciais com nossos vizinhos.
É o caso da cabotagem: modelo de transporte em que o navio transita sempre próximo à costa, oferecendo vias locais de afretamento que podem ser mais eficientes que rodovias.
“O Brasil tem uma costa com mais de 8.600 km e aproximadamente 20 portos preparados para receber e escoar produtos ao exterior”, comenta Rene. “Os portos de Santos, Rio de Janeiro, Salvador e Recife têm experimentado trocas de mercadorias via marítima por suas localizações mais distantes, e o mercado é crescente.”
Com essa rede de infraestrutura portuária cada vez maior, é possível não apenas ampliar seu mercado para os vizinhos como participar de negociações conjuntas para ter mais poder de negociação no cenário global.
E isso vem de fato acontecendo com algumas mudanças e ajustes nas relações entre os vizinhos. Wlach nos dá um exemplo disso:
“No passado havia alguns acordos bilaterais entre Brasil-Chile, Brasil-Uruguai e Brasil-Argentina (onde apenas navios com bandeiras desses países podiam operar no trajeto). Contudo, já foram anunciadas mudanças nos tratados e será permitido que bandeiras de outros países possam também participar deste mercado”.
Segundo ele, a concorrência deve resultar em uma redução de fretes e elevação dos volumes de trade envolvidos.
Quais as tendências para o desenvolvimento futuro do acordo
Com esse movimento, começa a se apontar para o futuro do Mercosul uma participação ainda mais importante do transporte por navios, não apenas na troca de mercadorias dentro do bloco como também na força dessas economias em conjunto para o comércio internacional.
Rene, assim como muitos outros profissionais que trabalham diretamente na rotina de portos pelo Brasil, entende que este é um mercado em crescimento, mas que precisa criar ainda mais condições de atração para oportunidades e competitividade frente ao modal rodoviário de transporte.
É consequência da maturidade do acordo, que completou 30 anos em 2021, além de um crescimento populacional e de consumo proporcionado por essas dinâmicas mais próximas de mercado.
Nesse sentido, a participação da Wilson Sons no Tecon Rio Grande é um ponto de destaque, e Rene está no centro desse processo.
A unidade de negócios da Wilson Sons está muito envolvida em criar um HUB (porto concentrador de cargas) em nosso complexo portuário e assim tornar-se uma grande plataforma logística para o Cone Sul”.
O papel da empresa neste caso é realizar contatos com os armadores (proprietários de navios ou carriers) para que, em conjunto, possamos criar este serviço de qualidade e agilidade na logística internacional. Essa é a grande aposta do setor para a retomada do pós-pandemia.
Aliás, não dá para falar do futuro sem citar as lições que 2020 e 2021 trouxeram para o setor. “O modelo just in time, que organizava tempo, redução de estoques está sendo revisto, pois, com a pandemia, houve falta de matérias-primas em toda indústria”.
Ainda segundo Rene, está havendo uma corrida para o aumento de estoques de segurança, e centros de distribuição, pavilhões logísticos, empresas de coletas e entregas estão em crescimento, assim como o setor portuário deverá receber uma forte retomada em seus volumes a partir de 2023.
E toda essa nova dinâmica impacta diretamente no papel do setor de logística marítima. Com mais integração, investimento em tecnologia e aproximação entre os vizinhos, é possível fazer com que o Mercosul se torne ainda mais forte nos próximos anos com a troca de mercadorias baseadas no crescimento da infraestrutura portuária.
Com esses elementos em vista, Wlach conclui a conversa com otimismo: “tão logo o atual desafio logístico se dissipe, voltaremos muito mais fortes às rotinas de viagens internacionais entre os principais blocos econômicos mundiais”. É uma oportunidade para o Mercosul se tornar ainda mais importante.
Quer saber mais sobre essa relação comercial entre países do Cone Sul? Então leia este artigo sobre o aumento de carga do Uruguai que é exportado pelo Tecon Rio Grande!