Como os leilões de petróleo afetam o mercado de O&G

  • 24/12/2019
  • 11 minutos

É inegável que os leilões de petróleo podem afetar bastante o mercado de O&G (Óleo e Gás — Oil & Gas). No entanto, de quais formas isso acontece? Como essas alterações se manifestam? Existem informações mais relevantes nesse sentido para quem atua na área?

Levando essas questões em consideração, conversamos com Diogo Salomão, Gerente Comercial & Marketing da Brasco Logística Offshore — companhia de apoio logístico onshore e offshore, que oferece soluções logísticas integradas. Acompanhe o texto até o fim para saber mais!

Por quanto tempo durou a interrupção dos leilões de petróleo e como explicá-la?

De acordo com o especialista, em relação às áreas em offshore, a interrupção configurou-se, na prática, pela descontinuidade da agenda dos leilões de concessão. “Esse formato de operação trata da oferta de blocos exploratórios na costa brasileira fora do polígono do pré-sal e, principalmente, pela não realização de leilão sobre os blocos de partilha, estes sim no pré-sal, cuja agenda de leilões se tornou efetiva a partir de 2017”, comenta Diogo. Ou seja, em poucas palavras, o arrefecimento dessa agenda começou em 2008 e só foi encerrado em 2017.

Para Diogo, a interrupção da agenda de leilões durante o período pode ser explicada pela postura do Governo Federal, que não era favorável ao investimento de capital privado no setor, principalmente o estrangeiro. “Isso impediu a entrada de novos players, desviando a aplicação de fora para outros países, em detrimento dos recursos alocados no Brasil”, argumenta.

Conforme noticiado pela Agência Brasil no segundo semestre de 2018, tanto os leilões de óleo quanto os de gás contribuíram para que as indústrias do setor passassem por uma espécie de retomada. Em entrevista concedida ao portal, o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Odonne mencionou que o aquecimento pelo qual o mercado passou ficou, ao menos inicialmente, concentrado no polígono do pré-sal. Ele também ponderou que o próximo desafio seria atrair aportes em outras áreas exploratórias que não tiveram a mesma atenção nos últimos anos.

Ainda nesta publicação, José Pedro Firmo, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), chamou atenção para as áreas de exploração onshore em campos maduros. 

Quais foram os principais impactos?

Na visão de Diogo, a interrupção dos leilões teve um impacto bem grande na indústria de O&G brasileira, gerando descontinuidade nas cadeias de produção e de serviços e promovendo a falta de investimentos. Como consequência, ocorreu uma completa estagnação do setor — o aumento da taxa de desemprego e a redução da arrecadação de verba por parte do governo representam isso. “Estima-se que a indústria perdeu cerca de 360 mil empregos entre 2013 e 2018, período mais acentuado da crise no setor”, aponta.

O que esperar da retomada dos leilões de petróleo?

Segundo Diogo, é possível esperar a retomada do investimento pelos novos operadores de petróleo. Isso revitalizaria a cadeia produtiva e, em curto e em médio prazo, aumentaria a capacidade instalada e, por consequência, geraria mais empregos e aumentaria as receitas governamentais por meio dos royalties etc. 

“Além da agenda de leilões, é de suma importância que outros aspectos sejam trabalhados pelo Governo junto ao setor, promovendo segurança jurídica ao investidor”, pondera o gerente da Brasco. Ele ainda cita, como exemplos disso, o processo de licenciamento ambiental, a atratividade dos blocos ofertados, políticas públicas, como conteúdo local, entre outros.

De modo resumido, os leilões funcionam como engrenagens indispensáveis para manter o mercado de O&G ativo. Em primeira instância, os operadores de petróleo precisam gerir seu portfólio com o objetivo de manter constante investimento em novos campos, visto que muitos deles têm ciclo de vida produtivo limitado. “Cabe ressaltar que a falta de leilões encurta a vida útil desses operadores no Brasil, incentivando-os a investir em outras fronteiras para contar com um portfólio saudável e equilibrado”, indica Diogo.

Quais são os benefícios do leilão de petróleo para o mercado de O&G?

De modo geral, as perspectivas em relação à retomada dos leilões são bastante positivas. Para Diogo, inclusive, não existe sequer um ponto negativo nesse movimento. “Para se ter ideia dos grandes benefícios dessa agenda, há estudos que preveem a geração de mais de 700 mil empregos entre 2019 e 2026, além de receitas governamentais superiores a R$1 trilhão (distribuídos entre união, estado e municípios)”, projeta.

Segundo estimativas da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da consultoria McKinsey, veiculadas pelo jornal O Globo em julho de 2019, é provável que o país não só triplique a produção diária, mas também dobre o volume de reservas provadas ao longo da próxima década.

Ainda de acordo com a matéria e com levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), o segmento deve alcançar R$24 bilhões em investimentos em 2019, o que representaria uma alta de 20% em relação ao ano de 2018. Para 2020, há uma expectativa de alcançar a marca de R$30 bilhões.

Nesse âmbito, o país realizou 3 leilões de áreas offshore em 2019, um de concessão em outubro e outros dois em novembro relacionados ao pré-sal (leilão da cessão onerosa e de partilha). No total, atingiram um bônus de assinatura de quase R$85 bilhões, e em torno de 7% desse valor veio de ofertas em que uma IOC (International Oil Company) é a operadora.

Uma publicação do G1, feita em junho de 2019, também reporta números semelhantes ao comentar falas concedidas pelo Ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Na oportunidade, ele ainda mencionou que o governo cumpriu a meta de leilões de concessões e que disse que já haviam sido emitidas R$2,3 bilhões de debêntures de infraestrutura, para investimentos de R$5 bilhões, alcançando um recorde.

Como ataques ocorridos nas instalações da Arábia Saudita poderiam afetar os leilões no Brasil?

“Esse tipo de evento não é desejável”, constata Diogo, “mesmo que possam aparentar algum benefício. Pode até haver algum tipo de reação em curto prazo pelo aumento do preço do barril, mas não se trata de um benefício sustentável e, portanto, jamais será benéfico”.

Enfim, é fato que os leilões de petróleo simbolizam novos caminhos para a economia do Brasil, em geral, e para o setor de Óleo e Gás (Oil & Gas), precisamente.

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