Navegação no Rio Amazonas: conheça as particularidades dessa manobra

  • 18/05/2021
  • 12 minutos

A região amazônica conta com a navegação hidroviária como um dos únicos meios de acesso à totalidade dos municípios da região.

Sem tempo para ler? Clique no play abaixo para ouvir esse conteúdo.

Os rios navegáveis de maior destaque no local são: Solimões/Amazonas, Juruá, Negro, Purus e Branco. O Solimões/Amazonas, o principal deles, consegue receber tanto pequenas embarcações como grandes navios. Isso deixa clara a capacidade da região de contribuir para o abastecimento de produtos de toda a natureza.

Tendo em vista a relevância do tema, conversamos com Márlon Gonçalves, supervisor de agenciamento da região Norte, e Edwin Muños, agente marítimo de Manaus, para entender melhor particularidades da navegação no rio Amazonas..

Acompanhe a leitura para saber mais!

A navegação como fator de desenvolvimento histórico da Amazônia

O rio Amazonas é o mais extenso do mundo. Ele conta com o maior volume de água, em 6.992 km de comprimento. Sua bacia hidrográfica, por sua vez, atinge mais de sete milhões de km². Ela tem, também, 1100 afluentes, em média, alcançando diversos países da América do Sul.

Primórdios da navegação

Ainda que o rio Amazonas e seus afluentes tenham sido considerados partes oficiais do conjunto da América portuguesa desde o século XVII, a incorporação ao Império só ocorreu no século XIX. Desde então, a Amazônia se desenvolveu na região que, hoje, responde por cerca de 70% da movimentação de cargas hidroviárias locais.

Edwin fala sobre isso: “o rio Amazonas é crucial para Manaus. Isso porque quase toda a matéria-prima que chega na cidade o faz via navegação. Então, sua importância econômica é marcante. Inclusive, o fluxo e a quantidade de material que entram por lá não poderiam entrar por via terrestre”.

Desenvolvimento

A movimentação local, em união com o uso de tecnologia e a bioeconomia, é uma grande responsável por impulsionar o desenvolvimento da região. “Hoje, navegar pelo rio é bastante seguro. Além disso, tudo gira em torno do rio Amazonas. Pesca, água, transporte… muito se deve a ele”, afirma Márlon.

Acesso

Por fim, para analisar o transporte hidroviário da região, é preciso considerar que a cidade de Manaus é uma espécie de “ilha”. Assim, sua movimentação cargueira em relação ao restante do mercado brasileiro só é eficiente por meio da água ou do ar.

Nesse sentido, Márlon comenta: “é ineficaz transportar carga de outra forma. O avião é mais caro, além de carregar menos carga. Sendo assim, a navegação é uma opção estratégica, comercial e otimizada”.

As condições de navegação no rio Amazonas

Edwin e Márlon falam um pouco sobre a navegação no Rio Amazonas. “Começamos em Macapá e terminamos na triplice fronteira com Peru e Colombia. Ou seja, passamos por três fronteiras. O Macapá representa a entrada e o acesso a todos os portos”, diz Edwin.

Contudo, para navegar de maneira autorizada, é preciso seguir algumas normas. Em especial porque, ao falar em navios, é importante pensar no calado e no comprimento.

Segundo o agente marítimo (shipping agent), há um comprimento de calado a ser respeitado, e é necessário estar atento. Ele informa, ainda, que alguns custos extras podem estar envolvidos em relação à navegação de trechos críticos do rio, principalmente durante o período da seca.

Márlon traz mais uma informação importante — que diz respeito ao prático de navios. Este é um profissional treinado para trabalhar com as tripulações durante as manobras ao longo do rio, que se divide em duas ZP’s. A 01 compreende o trecho entre o Amapá e Itacoatiara, e a ZP02 compreende o trecho entre Itacoatiara e Tabatinga, na tríplice fronteira.

De acordo com o supervisor de agenciamento, “toda a navegação feita no rio é realizada junto a um prático. O único momento em que não há um prático no rio é quando o navio está fundeado. Por fim, devido ao tempo de manobras, as mesmas sempre ocorrem com a presença de dois práticos, com algumas exceções para manobras de atracação e desatracação, quando o navio já estiver próximo ao porto”. 

Edwin finaliza: “o valor das manobras realizadas durante a navegação no rio Amazonas depende do GRT (Tonelagem bruta) do navio, desconsiderando o peso da carga que pode ir nele”. Desse modo, percebe-se que há um investimento substancial em segurança e direcionamento.

A operação de materiais e cargas

As principais cargas que transitam pelos portos da região amazônica incluem grãos, cavacos (chamados de woodchips), celulose, soda cáustica, caolin, fertilizantes, bauxita, petroquímicos, aço, trigo e clínquer, além de imensa diversidade carregadas em containers.

Márlon fala brevemente sobre a logística no transporte de grãos: “no passado, uma carga de grãos saía do Centro-Oeste de caminhão para Santos. Aqui na região há a navegação via balsa. Sendo assim, ganha-se em otimização e competitividade. Afinal, a logística aprimorada culmina em uma viagem mais curta”, comenta.

A operação efetuada com grãos também conta com o amparo da tecnologia. “Usa-se o siwertell, que é um equipamento feito para descarregar as balsas. Ele funciona por sucção e tem esteiras que facilitam o transporte e armazenamento, para depois carregar os navios via shiploader”.

Ele finaliza: “da barcaça para o navio, também é possível fazer o carregamento direto, por meio de guindaste, seja de bordo, seja flutuante”.

Os tipos de embarcações que passam pelo rio

De maneira geral, os tipos incluem embarcações de apoio offshore, navios, balsas e barcos fluviais que movimentam pequenas quantidades de carga. Os processos de movimentação desses meios de transporte dependem da autorização da Polícia Federal, da Anvisa e da Receita Federal.

Contudo, segundo Márlon, “qualquer produto pode ser transportado, desde que esteja legalizado e respeite as normas de segurança e navegação”. Ele complementa com uma curiosidade interessante: “existe uma fábrica no Rio Jari que produz celulose. Ela veio praticamente pronta e montada em cima de uma base advinda do Japão”.

Os pontos de atenção

Por fim, Edwin e Márlon falam sobre pontos de atenção ao realizar a navegação no rio Amazonas. Além da atuação do prático, é preciso ter um cuidado especial com a gestão de informações. Ela deve ser realizada de forma a otimizar os agendamentos e manobras. Isso porque todo e qualquer erro pode gerar faturas muito altas.

Além disso, de acordo com os especialistas, pelas particularidades do rio Amazonas — como os tempos de seca, em que o nível do rio baixa muito —, quase todos os terminais são flutuantes. “Essa particularidade é muito importante”, acentua Márlon, que finaliza: “a seca quase inviabiliza a questão do calado. Com isso, acaba-se recebendo menos carga. E, quem desejar prioridade, deve pagar taxas extras a alguns armadores”.

Mesmo com alguns desafios, conforme percebido, a navegação no rio Amazonas tem grande importância. Ela busca se adaptar à realidade da região, prioriza a segurança dos envolvidos e visa ao sucesso das operações.

Curtiu o conteúdo? Quer conferir as novidades do segmento? Então, não deixe de curtir a página do Facebook da Wilson Sons!