Entenda como foi feita a manobra inédita de navio submersível em São Sebastião
- 11/02/2020
- 11 minutos
Pense em ter que usar um navio submersível para carregar e rebocar outro como ele para o outro lado do mundo. Dá para imaginar a quantidade de preparação e integração entre diversos profissionais, empresas e autoridades para fazer dar certo?
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Pois é exatamente isso que foi feito no canal de São Sebastião em dezembro de 2019. Com ajuda de duas pessoas que participaram desse processo, entenda a magnitude da manobra inédita no Brasil e veja uma mostra da capacidade de gestão pela Wilson Sons no mercado. Vamos lá?
A necessidade de uma manobra inédita
Esta história começou há alguns meses antes, em setembro de 2019, quando um navio de bandeira chinesa chamado M/V Chipol Taihu teve problemas em seus motores poucos dias depois de deixar o Porto de Rio Grande em direção à China.
O maior desafio nesse caso era o tamanho da embarcação: com 188 metros de comprimento e 40 mil toneladas de carga (madeira de reflorestamento), era preciso um grande socorro para conseguir levá-la até seu país de origem.
O navio Chipol Taihu, que estava à deriva em alto mar, foi, primeiro, resgatado e levado de volta até o porto de Rio Grande, onde passou algumas semanas para reparos estruturais, até que ele conseguisse ser rebocado em segurança para o Porto de São Sebastião.
O navio foi então levado por três rebocadores menores até o canal de São Sebastião, um dos principais portos brasileiros, onde um plano de ação inédito em território nacional começou a ser desenhado.
O navio submersível escolhido para a manobra
A primeira etapa e uma das mais importantes era encontrar um rebocador capaz de levar com segurança um navio tão grande para o outro lado do mundo.
Eduardo Santos, responsável pelas operações da Wilson Sons Agência no Porto de São Sebastião, é uma das pessoas que trabalhou de perto nesse processo e conta:
“O navio semissubmersível é o Xin Guang Hua, bandeira Hong Kong medindo 255 metros de comprimento e 68 metros de boca (largura). É considerado o navio mais moderno do mundo neste segmento.”
A embarcação estava passando pelo Atlântico quando foi acionada pela empresa e redirecionada até o canal. É um tipo especial de navio, que enche compartimentos de água para submergir quase que totalmente — deixando apenas as torres do casario acima da superfície. Com o maior e melhor rebocador à disposição, estavam prontos para começar.
O planejamento
Com a devida escolha do rebocador, o papel da Wilson Sons Agência foi determinante para seguir com o planejamento, principalmente pela escolha do porto. O local da manobra foi escolhido por suas características compatíveis com a grandeza do que havia de ser feito. Eduardo explica: “o Canal de São Sebastião é conhecido há séculos como uma área de águas abrigadas e profundas, condições perfeitas para a realização da manobra”.
Continua: “foi solicitado um estudo de profundidade (batimetria) na área norte do fundeadouro interno do canal, onde foi averiguado uma posição com um calado de aproximadamente 34 metros de profundidade. Era o que precisávamos, pois o navio Xin Guang Hua necessitaria de 27 metros para imergir a ponto de conseguir receber o navio Chipol Taihu em seu deck.”
A fase de planejamento da manobra envolveu por volta de 20 pessoas, entre profissionais e entidades públicas de controle. Outro envolvido nesse processo foi Thiago Pierry, analista comercial da Wilson Sons Agência.
Ele dá uma ideia dos desafios que foram superados: “a Wilson Sons teve uma série de reuniões com a capitania. O porto de São Sebastião é independente da Codesp e tivemos reuniões com eles, com a Anvisa, a Polícia, todos que poderiam estar envolvidos e que teriam algo a entender e acrescentar. Como era algo novo, todos tiveram que ser consultados, para que cada um falasse a sua parte. O navio que foi transportado já estava carregado e ele passa a virar a carga que tem que ser cuidada também pelo submersível!”
Além de encontrar um calado favorável para a manobra, a localização ainda teria que ser estratégica para não afetar o funcionamento do Porto. Foi um planejamento intenso e integrado, a prova de falhas.
A execução do plano
E foi exatamente assim a execução: sem falhas e sem sustos. Depois de submergir até a profundidade necessária, o Xin Guang Hua recebeu Chipol Taihu com todo o cuidado por pequenos rebocadores.
Após essa etapa, o grande navio liberou a água armazenada e reemergiu com uma nova carga de 188 metros, a embarcação foi fixada e soldada para suportar condições extremas de viagem. Depois de todos os passos concluídos e checados, rebocador e rebocado seguiram seu caminho para a China passando pela África do Sul.
O papel da Wilson Sons nesse feito inédito
A Wilson Sons foi fundamental na articulação de uma manobra de tamanho nunca antes vista na costa brasileira. Eduardo detalha o volume de trabalho que tiveram durante esse período: “nós fomos os responsáveis por coordenar todas as tratativas e permissões perante as autoridades locais para a realização da manobra. Precisávamos passar segurança para cliente e autoridades”.
Continua: “nós tínhamos que agendar e participar das reuniões e dos estudos e acompanhamos toda a manobra, desde o início da submersão até a imersão total do navio. E também fizemos toda a coordenação de embarque de colaboradores e equipamentos que foram utilizados a bordo antes, durante e depois da execução.”
Thiago ainda demonstra o volume de esforço necessário para um feito tão importante: “da parte da Wilson Sons foram, pelo menos, 5 filiais que se envolveram: Santos, São Sebastião, Rio de Janeiro, Salvador, Vitória, foram também, pelo menos, 7 pessoas da agência marítima, mais 4 pessoas do armador — ship owner —, fora as autoridades!”
No fim, a maior importância do feito para a Wilson Sons e para o mercado está na criação de um parâmetro, um pioneirismo que traga novas oportunidades de ampliar a capacidade de transporte em território nacional. Thiago citou esse ponto em uma de suas observações: “a experiência fica com a gente, passamos a ter essa expertise, nesse porte. O próprio armador nos passou a mensagem de que São Sebastião acaba entrando na rota de possibilidade desse tipo de operação!”
Eduardo completa: “hoje sabemos o ‘caminho das pedras’ para realização de uma manobra desse porte e tenho certeza que quando pensarem na possibilidade de uma nova manobra complexa como essa, a Wilson Sons será o primeiro nome a ser lembrado.”
A vinda do maior navio submersível para o Brasil e o planejamento e execução de uma manobra dessa magnitude demonstram não só o potencial do país dentro do transporte marítimo mundial como a competência e a eficiência da Wilson Sons articulando essa evolução.
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