Veja como foi a produção de petróleo em 2020 e suas tendências

  • 09/02/2021
  • 9 minutos

O setor de Óleo e Gás (O&G) ficou em destaque por boa parte do ano de 2020 ao ser um dos mais afetados pela pandemia de Covid-19. Mas, com muito trabalho e planejamento no segundo semestre, a produção de petróleo já começa a dar sinais de recuperação.

E qual foi o tamanho desse impacto? Como a volatilidade do preço do petróleo vem interferindo no mercado? O que se espera como projeção para o futuro do O&G? Para conseguir respostas confiáveis, convidamos José Pedro Rangel de Almeida, sócio-fundador da Lila (refinaria de dados e analista de O&G da Megawhat), para nos apresentar seus insights sobre o que aconteceu e o que está por vir. Acompanhe.

O estado da produção de petróleo até a entrada de 2020

No Brasil e no mundo, o setor de O&G vivia um momento de expansão até o começo de 2020. Consequência de alguns fatores como a maior demanda do mercado asiático e grande competitividade em uma guerra de preços entre os maiores produtores do mundo, resultados práticos de investimentos feitos em tecnologia nos últimos anos.

Nosso próprio país é um exemplo desse crescimento. Em 2019, atingimos a marca de 1 bilhão de barris no período de um ano pela primeira vez — um crescimento de 7,78% em relação a 2018.

Nesse cenário, 2020 se mostrava como mais 12 meses de evolução e consolidação produtiva, mas um grande evento mundial, como nunca visto antes, estava em nosso caminho.

O impacto da pandemia na produção de petróleo mundial

Os primeiros meses de pandemia da Covid-19 reverberaram em todos os setores da economia, mas em nenhum deles isso ficou tão evidente como no de O&G. Com lockdowns decretados em diversos países e cidades importantes, a demanda por petróleo recebeu um baque impossível de ser previsto meses antes do acontecimento.

José Pedro destrincha como foi essa queda de demanda como um efeito dominó:

  1. o consumidor parou de encher o tanque do carro;
  2. o posto parou de vender, aumentou o estoque e deixou de comprar mais produto;
  3. a distribuidora parou de vender, aumentou o estoque e parou de comprar das refinarias;
  4. as refinarias pararam de vender, aumentaram o estoque, cancelaram novas compras de matéria-prima;
  5. com maior oferta de produto, a estrutura de preço no mercado futuro favoreceu o “carry trade” — comprar, estocar e vender futuramente;
  6. o aumento dos estoques em terra gerou um acúmulo no estoque flutuante de navios VLCC e SUEZMAX.

O resultado chamou a atenção até da grande mídia, uma queda impressionante no preço do barril. Para o analista, alguns fatores vêm da guerra comercial entre os maiores produtores, mas a redução brusca e inédita de demanda foi um aspecto crucial para aprofundar a crise.

Esse é um baque grande e imediato, mas que ainda gera outros efeitos negativos ao longo do tempo. Por exemplo, José Pedro aponta que “estamos vendo um número cada vez maior de paradas não programadas. No Brasil, 36 campos tiveram a produção interrompida sem data para voltar. A produção em águas rasas sofre um corte de 62 plataformas, maioria do tipo fixa”.

A diminuição da demanda levou ao excesso de estoque, o que acarretou uma reacomodação da produção de petróleo que está em curso neste momento. É um desafio complexo e mundial, que exigirá inteligência para uma recuperação mais acelerada.

O processo de recuperação do setor

Não podemos dizer que a crise foi completa para o setor de Óleo e Gás no Brasil. Mesmo com todo o impacto no mercado interno, a desvalorização do Real e a nova legislação da IMO 2020 para emissões de enxofre — que favorece a qualidade do petróleo no pré-sal — contribuíram para um aumento na exportação do nosso insumo.

É evidente que esse não é nem de longe o cenário ideal. Houve, no mínimo, uma certa estabilização do setor no segundo semestre de 2020. E estabilidade é a plataforma necessária para reconstruir o crescimento produtivo.

No momento, fatores importantes tornam essa confiabilidade do mercado um desafio. José Pedro aponta as eleições presidenciais nos Estados Unidos e o risco de uma segunda onda da Covid-19 no hemisfério norte como variáveis que tornam qualquer projeção incerta.

Porém, o analista enxerga algumas situações atuais que podem apontar um caminho importante para o futuro: “avanços no estudo da vacina e novos pacotes monetários podem impulsionar os preços, sujeito a uma cooperação dos países produtores, dado uma demanda mundial reprimida”.

As perspectivas para o futuro

Falando no que vem em seguida, o maior desafio hoje é apostar em quando e como o setor de O&G vai se recuperar. A maneira como se dão os eventos daqui em diante determina quem sai fortalecido ou enfraquecido nessa disputa.

No cenário global, a proposta inicial é de uma união que favoreça a recuperação de todo o setor. “Não temos mais uma guerra de preços, dado que os países estão trabalhando em conjunto para cortar a produção e manter o preço da commodity elevado”, José explica.

E mesmo que haja muita incerteza sobre o futuro, o Brasil é um dos países que tem nas mãos a oportunidade de transformar tal desafio em crescimento. É o caso primeiramente dos investimentos no pré-sal. “O cronograma de novas FPSOs continua firme e teremos mais unidades nos próximos anos. O campo de Búzios será o maior responsável por esse aumento da produção”. O plano de negócios da Petrobras de 2021 a 2025, inclusive, reforça essa perspectiva. 

Além disso, José Pedro completa falando sobre a própria modernização do setor: “temos um cenário onde as empresas internacionais de petróleo estão perfurando em águas cada vez mais profundas e uma das formas de financiar essa empreitada é o descomissionamento de plataformas mais maduras. Esse movimento abre espaço para as empresas independentes com operações mais enxutas”.

Portanto, o que se espera para o futuro da produção de petróleo no mundo inteiro é a retomada de seu crescimento com uma aceleração de mudanças no setor — com novos players e mais tecnologia aliada a um investimento no mercado de energia sustentável.

Nesse futuro, o Brasil tem o potencial para ser um mercado consolidado e competitivo. A virada para 2021 pode ser o início de uma nova era para o nosso mercado.

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