Profissão afretador: o que é preciso para ser um excelente profissional?

  • 27/08/2018
  • 12 minutos

A profissão de afretador, ou charterer, demanda postura estratégica e comprometida com resultados. Tendo em vista a complexidade das operações logísticas no trading internacional, a margem de erro é próxima do zero. No comércio offshore, diferenças de centavos nos preços das unidades de medida de grãos ou commodities podem representar o acréscimo de fortunas ao preço final.

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Diante de tamanho desafio, o que é necessário para ser de fato um profissional de ponta? Conversamos com Lucas Claudino, especialista de afretamento, pela Windward Shipping para podermos destacar os fatores a seguir. Acompanhe!

Verificar a credibilidade do armador

Como em toda transação comercial, tudo começa em uma avaliação criteriosa do histórico profissional do fretador/armador, ou seja, a figura que vai colocar uma embarcação à disposição do afretador.

Essa avaliação consiste em pesquisar se o operador de frete em questão tem algum navio arrestado ou mesmo se, no passado, ele falhou em performar uma carga ou em cumprir um contrato. Portanto, o profissional ou empresa deverá apresentar credibilidade inquestionável.

O charterer deverá cotejar as informações apuradas com o tipo de charter party celebrado. “Se for apenas uma viagem — voyage charter — o grau de risco será menor do que se fosse um contrato time charter, por exemplo”, explica Lucas.

Definir o tipo de contrato de transporte

Em relação à questão contratual, é importante destacar que o mercado internacional apresenta sazonalidades que influenciam diretamente nos preços e taxas alfandegárias.

Em determinados períodos do ano, o afretador atento deverá estar pronto para aproveitar possíveis vantagens que só se verificam em meses ou dias específicos.

Um bom exemplo disso foi dado recentemente pela Companhia Vale do Rio Doce, que viu no charter party de longo prazo a melhor alternativa para reduzir custos operacionais. Lembre-se: no mercado de exportação, poucos centavos fazem muita diferença.

Saber trabalhar com discrição

No Brasil, é comum dizer que “comer pelas beiradas” é a forma mais segura de se trabalhar. Com afretamento, também chamado de charter, a lógica é parecida. Quando vai ao mercado em busca de parceiros para suas operações, o charterer acaba sinalizando para concorrentes que, ali, pode estar uma oportunidade de negócio.

Como vimos, a operação no comércio internacional é complexa, em que apenas um movimento de carga pode gerar centenas de milhões de dólares. Para Lucas Claudino, “em um cenário com players naturalmente de peso, toda negociação pode significar um filão a ser explorado”. Tenha isso em conta.

Conhecer os diferentes shippers

Cada shipper trabalha conforme a terminologia e regras do seu próprio terminal de carregamento. Além da parte burocrática, é fundamental ainda que o afretador conheça tanto quanto possível a dinâmica operacional do porto em que sua carga vai embarcar ou desembarcar. Afinal, as sazonalidades impõem máxima atenção às datas, que fazem toda diferença na composição do custo total do frete marítimo.

Não se esqueça de que um charterer de excelência sabe o que fazer para aproximar o seu charter party de um contrato back to back.

Outro cuidado importante, levantado por Lucas é que, além de escolher criteriosamente os shippers, deve-se contar com parceiros de boa reputação e comprovada eficiência na parte técnica. Agentes de navegação, brokers e outros profissionais serão a sua garantia de que as peculiaridades das operações em cada porto sejam tratadas da forma correta.

Atuar em diversas frentes de negociação

Lucas Claudino chama atenção para um fato: no mercado de commodities e de insumos para agricultura, as operações envolvem volumes massivos de grãos ou de líquidos, que precisam ser transportados por muitas milhas náuticas até chegarem ao seu destino.

Normalmente, o transporte desses materiais são precedidos de tenders, espécie de processo licitatório aberto ao mercado internacional. Neles, governos ou grandes empresas podem oferecer incentivos na forma de subsídios para quem assumir os riscos das operações logísticas internacionais.

Entretanto, o afretador não deve se basear apenas no que é oferecido por quem exporta. Para garantir o sucesso das operações e a rentabilidade do negócio, deverá montar uma matriz de custos que contemple a logística, impostos e claro, o valor da commodity a ser transportada, considerando a realidade de diversos países.

Nesse aspecto, vale reforçar novamente a capacidade de negociar com discrição e, de preferência, com profissionais já conhecidos. Assim, o charterer evita que uma simples sondagem por preços se transforme em motivo para um armador, que também pode ser chamado de carrier, inflacionar os valores praticados. É como se você precisasse atravessar uma lagoa infestada de jacarés. Se seu nado for muito espalhafatoso, vai chamar a atenção dos predadores.

Reconhecer oportunidades em outros afretamentos

Um contrato de afretamento, ou charter party é, no final das contas, um transporte como outro qualquer. O afretador paga a um armador/fretador, que disponibiliza seu navio para levar uma carga de um ponto A a um ponto B. Nesse aspecto, temos o mesmo princípio que rege a mobilidade urbana.

Assim, uma viagem solitária em um Uber, por exemplo, sai mais cara do que quando se recorre à modalidade “pool”, na qual o valor do transporte é dividido por todos os passageiros.

No comércio internacional, tal estratégia pode ser replicada no contexto do charter. Um possível “pool” de afretadores, pode representar significativa redução no custo do frete, desde que a parceria escolhida seja comprovadamente competente.

Outra vantagem é que, dividindo os custos com quem já tem um contrato fechado, são reduzidos os riscos de exposição em relação a eventuais tratativas em curso.

Permanecer atento ao mercado internacional

Negociar no mercado internacional significa atuar em um palco em que o cenário e os atores estão em um fluxo intenso, com posições extremamente cambiantes.

Charterers que operam com o transporte de cargas líquidas ou a granel devem ter atenção especial. Como lidam diretamente com as oscilações de mercado impostas por políticas governamentais, é de extrema importância que estejam atualizados em relação aos movimentos geopolíticos, que afetam diretamente os fluxos de cargas internacionais. Regularmente, países são boicotados por outros, passando a integrar “listas negras” ou sofrem embargos econômicos, em represália ou atendendo às determinações das Nações Unidas (ONU).

Contudo, “não são apenas as pessoas que podem influenciar nos preços e condições de transporte”, conclui Lucas Claudino. Fenômenos climáticos como secas, enchentes, furacões e maremotos são alguns possíveis fatores que tornarão uma operação mais ou menos arriscada. Como em toda profissão que exige alta especialização, a de afretador exige dos seus abnegados uma disposição constante em aprender e em se aperfeiçoar.

Se você pretende se tornar um excelente profissional, não fique em dúvida. Deixe um comentário que nós teremos o maior prazer atendê-lo!