Safras recordes de grãos: será que o Brasil conseguirá manter esse nível para os próximos anos?

  • 15/09/2020
  • 11 minutos

O cenário de pandemia trouxe mudanças para as mais diversas áreas. Contudo, o agronegócio não parece ter sofrido impactos diretos. A previsão de maior colheita da história, atingindo safras recordes de grãos — com destaque para milho, soja, arroz, feijão e algodão — clarifica o momento em que estamos.

Para entender um pouco mais, conversamos com Cleverton Santana, Superintendente de Informações do Agronegócio da CONAB. A Companhia Nacional de Abastecimento traz, ainda, informações sobre as dificuldades enfrentadas pelo produtor atual, que busca cada vez mais informações sobre clima, tecnologias e boas práticas culturais a fim de aprimorar a qualidade das safras. Acompanhe a leitura!

Números das últimas safras

Para que seja compreendido o recorde de colheita previsto, é importante conhecer alguns números. A comparação entre eles se dá em relação aos 65,5 milhões de hectares, no total, que foram plantados pelo Brasil na safra de 2019/2020. Enquanto isso, as anteriores atingiam o máximo de 63,2 milhões de hectares. O especialista explica que mais de 2 milhões de hectares foram plantados de forma extra, com destaque para a soja. O grão é carro-chefe do setor e apresenta boas rentabilidades há anos. Ele atingiu, sozinho, 36,8 milhões de hectares.

A soja foi plantada no segundo semestre de 2019 e se concentra de setembro a novembro. Já na segunda safra, o destaque é a cultura do milho, responsável por compor boa parte da produção. A fase de desenvolvimento está quase terminada e a colheita já iniciou. Esse é apenas um cenário que explica os recordes de grãos do país.

O recorde do ano passado, até o momento, era o mais expressivo. Ele alcançava 242 milhões de toneladas. Este ano, espera-se um valor bruto de produção agropecuária estimado em 689,97 bilhões de reais. Em porcentagem, a previsão chega a 7,6% maior que a anterior — quando atingiu 641,3 bilhões. A avaliação das informações macro do Brasil estima uma produção acima de 250 milhões de toneladas no total.

Cenários que possibilitaram as safras recordes de grãos

São diversos os motivos que possibilitaram um recorde no cenário atual. “O produtor rural já tinha adquirido os insumos antes do início da pandemia”, aponta o Superintendente. Dessa forma, é possível afirmar que não foram percebidos impactos diretos do coronavírus na produção de grãos. Ao somar esse fator com uma maior área de plantio, explicam-se os resultados obtidos.

O preparo prévio traz ainda mais vantagens. No momento, os produtores rurais estão colhendo, por exemplo, o segundo ciclo de milho. As culturas de inverno também estão sendo plantadas, em especial nas regiões do Paraná e do Rio Grande do Sul. Esse é um momento que exige atenção, pois pode sofrer impactos em função das condições climáticas.

Contudo, segundo Cleverton Santana, o mesmo cuidado com a pandemia foi tomado para que o inverno não fosse um empecilho. Os insumos foram adquiridos com antecedência. Ele afirma que “os produtores têm se precavido, mas o trabalho de campo, entrega de insumos e os tratos culturais acontecem dentro da normalidade”.

Mudanças rápidas são comumente percebidas no âmbito do agronegócio. O produtor já está acostumado a elas e, cada vez mais, se prepara para manter a cadeia — não só de produção, mas também de exportações e importações agrícolas, como o embarque de soja — em pleno funcionamento.

Perspectivas para o futuro

Questionado sobre as perspectivas futuras, o especialista diz ser impossível oferecer exatidão em relação às safras recordes de grãos. Contudo, percebe-se um aumento no número de exportações que pode ser benéfico para o país. “Temos a China, que é um grande comprador de soja. Ela aumentou as exportações em Abril (em 2,6%)”, aponta. As projeções são realizadas nos meses de julho e agosto.

O acompanhamento é feito dentro da porteira. Nele, são levantados custos de produção e safras advindas deles. Para compreender o cenário, é preciso reforçar a ideia de que o setor agrícola é bastante dinâmico. O Brasil é um país continental. Tal característica promove a capacidade de plantio de até três safras dentro de um ano agrícola. Para obter o melhor de cada uma delas, é fundamental que o produtor seja adaptável.

Considerando que a soja é sempre um destaque de plantio, é preciso que novas opções sejam buscadas. A dinamicidade da cultura permite que alternativas estejam à disposição: girassol, algodão, milho, mamona, canola, centeio, entre outros. Em suma, o produtor preparado é capaz de efetuar a manutenção das safras recordes de grãos e, até mesmo, superá-las. Algumas sugestões são importantes para que haja estabilidade e adaptabilidade.

O que o produtor tem feito manter os números em alta

Em qualquer nação, o alimento se mostra um item essencial. É por isso que se torna possível contar com bons números nos próximos anos. Porém, algumas sugestões do Superintendente de Informações do Agronegócio podem alavancar ainda mais os resultados e auxiliar o produtor em sua busca por qualidade nas safras:

  • buscar por novas e eficientes tecnologias;
  • plantar a variedade mais adequada para a região;
  • semear em época adequada;
  • investir em inovações para inibir a baixa produtividade advinda de condições climáticas;
  • se preparar para enfrentar as mudanças do mercado;
  • focar em reduzir custos para aumentar a rentabilidade;
  • atentar sempre às previsões climáticas;
  • alinhar os meses de colheita e plantio etc.

Segundo o especialista, a primeira safra tem sua plantação de setembro a dezembro e a colheita de janeiro a março. Já a segunda é plantada de janeiro a março e colhida de maio a agosto. Ele finaliza com um exemplo que informa a perda da primeira safra de feijão em função da redução de área. Afinal, sua cultura compete com a de soja e milho. A primeira safra é colhida em época de chuva, o que faz diferença em sua qualidade. Para compensar, o produtor precisou plantar mais no segundo ciclo.

As safras recordes de grãos no Brasil são explicadas por diversos fatores. Além do baixo impacto da pandemia (que tem se concentrado nas grandes cidades), houve maior área de plantio. Os produtores também estão adaptados às adversidades, fazendo com que estejam preparados para enfrentar desafios no cenário do agronegócio e se alinhem cada vez mais com novas tecnologias e boas práticas culturais. Mesmo que não seja possível prever o futuro, as expectativas para quem busca se educar em relação às particularidades do país são positivas.

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