Qual é o futuro do transporte marítimo no Brasil?

  • 05/04/2022
  • 10 minutos

Os anos de 2020 e 2021 foram desafiadores não apenas para os negócios, mas para toda a humanidade. Porém, enquanto a vacinação avança e conseguimos superar a pandemia, é hora de começar a olhar para o que vem pela frente.

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E uma maneira muito interessante de fazer isso é analisar a economia nacional pelo olhar de quem a torna possível em um cenário global. Vamos falar do futuro do transporte marítimo no Brasil.

Para isso, convidamos Demir Lourenço, diretor executivo do Tecon Salvador, para traçarmos juntos um panorama de projeção para os próximos anos e o que podemos tirar de aprendizado do que passou. Acompanhe!

Muito espaço para crescer

O que rege as projeções para o futuro do transporte marítimo brasileiro não são apenas os resultados mais recentes, mas principalmente o potencial de crescimento que ainda existe no setor.

É com essa ideia que Demir inicia nossa conversa. Como comparação de potencial do modal, ele aponta que todo o Brasil movimentou menos de 10 milhões de TEUS (unidade de medida a partir da carga de um container de 20 pés), contra 45 milhões apenas no porto de Shangai.

Além dessa disparidade com líderes do mercado internacional, a questão principal é um gap existente entre o que poderíamos movimentar de carga marítima e o que fazemos hoje. É um potencial pronto para ser explorado com investimento em produção, logística e infraestrutura.

Como os desafios estão sendo superados

Mesmo com todo esse potencial, Demir vê que ainda há alguns pontos da indústria como um todo que precisam ser trabalhados para aumentar ainda mais o crescimento do afretamento marítimo no futuro.

Segundo ele, o gargalo hoje está na demanda, com muitas empresas focando no mercado interno sendo que poderiam utilizar o modal para ampliar suas operações e alcançar o mundo inteiro.

Mesmo dentro do próprio país, o investimento em cabotagem ainda é menos explorado do que poderia. “O Brasil tem 8 mil km de costa e a sua população e produção se situa numa faixa bem próxima ao litoral. E aí a gente vê uma movimentação de carga por cabotagem que ainda é muito pequena.”

Mas esses são desafios que não impedem a indústria brasileira de crescer e se expandir a cada ano utilizando o transporte marítimo como centro de suas estratégias.

Desde a década de 1990, com a privatização de terminais e leis importantes como a PL da BR do mar, o Brasil vem constantemente caminhando em busca de todo esse potencial não explorado.

Atualmente, o setor tem infraestrutura tecnológica que não perde para nenhum outro país do mundo, além de profundos investimentos em otimização de processos logísticos e de mão de obra especializada. Ou seja, uma perspectiva muito positiva para os próximos anos.

Digitalização como um caminho

Terminamos o tópico anterior falando em tecnologia e não podemos projetar qualquer futuro para o setor sem passar por esse assunto.

Demir reforça bastante as mudanças feitas nos últimos anos em eficiência operacional, mas deixando claro que há muito o que se fazer ainda. “Os tempos que se tem para operar simultaneamente vários contêineres ainda podem ser otimizados no Brasil”.

E isso vem sendo feito principalmente com a digitalização de toda a cadeia logística do modal — na preparação da carga ainda na origem, na rota até o terminal portuário, prioritariamente na movimentação dentro do porto e também no trajeto até o destino.

Um exemplo de digitalização que vem impulsionando crescimento é a simplificação de processos burocráticos, um esforço tanto por parte dos órgãos públicos responsáveis como pelas empresas que atuam no setor.

Um exemplo disso é a própria Wilson Sons, que investe pesado em tecnologia com sistemas integradores de gestão e operação.

Segundo Demir, várias etapas, como vistorias e despachos, que necessitavam da presença física do responsável pela carga, estão sendo substituídas por modelos digitais mais eficientes.

“O nosso objetivo é que todos os trabalhos burocráticos (agendamentos, entrega de docs, etc.) já estejam disponíveis no portal de serviços. O cliente que trabalha conosco tem a possibilidade de ir ao terminal somente se quiser. E se for, será muito bem recebido!”.

Combinando o potencial de infraestrutura e demanda com o potencial de digitalização, o que se vê para os próximos anos é um crescimento acentuado da capacidade de operação nos portos brasileiros.

E não só a operação aumenta, como essas tecnologias ajudam a acelerar os processos portuários e, em alguns casos, a até baratear o frete final. É um futuro de eficiência, com portos inteligentes que precisam de menos para fazer mais.

Lições da pandemia que ficam para o futuro

Momentos de crise, independentemente de suas origens, sempre deixam lições importantes para o mercado. E poucas foram tão complexas, extensas e desafiadoras como as da pandemia do COVID-19.

Em 2020 e 2021, vivemos um processo de grande impacto repentino nas rotinas operacionais, seguido por uma adaptação necessária a uma nova realidade. Agora que estamos finalmente superando esse período, precisamos sim ter um olhar positivo para o futuro, mas sem esquecer o que o período nos ensinou.

Em termos comerciais, o que podemos dizer é que todo crescimento de um setor de base como a logística deve ser pautado em estratégias inteligentes que estejam preparadas para lidar com momentos similares futuramente.

Demir inclusive comenta sobre essa transformação. “Fomos empurrados para um processo de digitalização muito acelerado, a partir do início da pandemia. Dormimos dentro de uma realidade e acordamos com uma realidade totalmente diferente”.

Mas, novamente, a tecnologia se mostra como uma resposta. O que permitiu que todas as empresas na cadeia, do produtor ao terminal portuário, pudessem crescer mesmo durante a pandemia foi a capacidade de utilizar soluções digitais para aperfeiçoar a comunicação e gestão desses processos.

Nesse sentido, pode-se definir com bastante clareza o que moverá o futuro do transporte marítimo no Brasil: o crescimento da infraestrutura baseado em tecnologias para que volume e eficiência cresçam na mesma proporção. E se você pensa em fazer parte desse futuro, o setor está pronto para receber sua empresa.