Tudo o que você precisa saber sobre under keel clearance

  • 05/07/2021
  • 11 minutos

Quando um afretador (charterer) entende alguns conceitos rotineiros nos portos, a navegação pode se dar de forma muito mais segura e rápida! Isso porque, numa equipe em que todos são capazes de compreender as necessidades de segurança para ajustarem as capacidades de cada embarcação, é possível otimizar processos e custos.

Um exemplo disso é o Under Keel Clearance, ou UKC, que faz parte dos termos do afretamento marítimo (maritime chartering) e deve ser levado em conta sempre. Convidamos o especialista Antonio Paulo Bastos, da Nautis Consultores Ltda., para explicar mais a fundo o conceito e como essa simples medida impacta em várias decisões logísticas em um terminal portuário. Confira!

O que é Under Keel Clearance (UKC)?

Under Keel Clearance, também conhecido no Brasil como “pé de piloto”, é uma medida simples, porém muito importante para a rotina de portos e navios. Esse indicador determina a menor lâmina d’água entre o fundo do barco e o leito marinho. Ou seja, o espaço entre a quilha e o fundo do mar.

O UKC precisa ser determinado geralmente em regiões mais rasas, como rios, deltas, canais e, principalmente na aproximação e na manobra dentro de terminais portuários.

O objetivo, claro, é dar segurança para o transporte marítimo, impedindo que a embarcação encalhe ou se rompa ao encontrar o leito. Portanto, é o tipo de conceito que influencia várias decisões práticas, mercadológicas e de planejamento logístico no manuseio e no transporte de cargas.

Como a medida é determinada nos portos?

O UKC é determinado tendo em vista o tamanho de navios e a capacidade de volume de carga no porto. E, para isso, são definidas duas medidas: o pé de piloto para o navio sendo carregado/ descarregado (parado) e durante manobra de entrada e saída (em movimento).

Isso acontece porque o navio parado permite um UKC menor. “Quando o navio está parado, pode ter uma margem menor de segurança abaixo da quilha. Os próprios portos cavam o mínimo possível para a profundidade operacional. Tem que ser o suficiente para o barco não encostar no fundo”, comenta Bastos.

Quando a embarcação está em movimento, o pé de piloto precisa ser mais generoso por causa de um fenômeno importante chamado SQAT ou SQUAT (agachar, em inglês).

Quando o navio acelera e a água começa a passar mais rápido por ele, a dinâmica de pressão tende a fazer com que ele afunde um pouco mais do que quando está parado. Portanto, a velocidade e a natureza do movimento influenciam essa medida.

Outros fatores também determinam o Under Keel Clearance ideal. Um deles é o próprio solo do local onde está sendo medido. Velocidade de assoreamento, tipo de fundo e qualidade da dragagem feita podem impactar na decisão — inclusive em longo prazo.

Outro exemplo que Antônio Bastos dá é o tamanho do canal: “o navio normalmente entra e sai na maré cheia, sendo o UKC do atracado sempre considerado na maré seca. Mas, em São Luís, o navio não consegue andar o canal todo na maré cheia, porque não há tempo. Isso precisou ser considerado na medida definida para o local”.

Qual a importância do UKC no transporte de cargas?

Apesar de ser uma medida simples em seu conceito, o Under Keel Clearance é vital para a operação marítima e influencia muito a logística de comércio na região. Veja como essa importância se dá em aspectos fundamentais da praticagem em portos e movimentação de embarcações.

Planejamento logístico geral

Toda a operação dos navios para entrada e saída em terminais portuários depende do UKC. Ele vai determinar tipos de navios compatíveis, movimentação de carga máxima em cada um deles e até os horários de movimentação dependendo da maré.

Ou seja, a medida impacta os horários de operação, o volume de carga no porto, o tipo de carga adequada e a ordem de entrada das embarcações para carga e descarga. A partir dessas necessidades, os operadores conseguem otimizar a logística com um planejamento que garanta o máximo de movimentação com o máximo de carga possível a todo momento.

Segurança operacional

É claro que a produtividade nos portos é otimizada ao máximo, mas apenas até o ponto em que a segurança é garantida. E um cálculo equivocado de pé de piloto pode levar a riscos sérios.

Antônio nos conta que o encalhamento pode resultar em rasgos no casco do navio, na quebra do leme ou até de pás da hélice. São eventos incomuns hoje em dia exatamente pela seriedade com que o UKC é tratado no setor.

Lembrando que esse tipo de incidente não é apenas uma questão de segurança para os profissionais envolvidos, é também uma origem de prejuízos: para as empresas donas do navio e da carga e para todo o porto, que pode precisar pausar a operação.

Investimento em novos portos

O Under Keel Clearance não é um fator primordial para a escolha de locais propícios para a construção de portos, mas pode ser uma vantagem em alguns pontos.

Quando o leito da região escolhida é menos propensa ao assoreamento e já tem uma profundidade naturalmente maior, a administração do terminal precisa gastar menos com dragagem e outros processos de manutenção.

Otimização de custos e negociação de cargas

Uma questão diretamente relacionada ao UKC é o lado comercial da operação de um porto. Afinal, a conta impacta na capacidade de carga em navios.

Idealmente, todos os profissionais e empresas no setor gostariam que eles operassem o tempo todo no máximo de sua capacidade, mas cada terminal portuário tem suas especificidades e seu pé de piloto.

Isso significa, por exemplo, que, mesmo que o porto onde a embarcação será carregada permita mais volume, é preciso pensar também na medida do terminal de destino. Um erro de cálculo pode fazer com que o navio seja impedido de atracar.

É uma questão complicada de negociação por impactar a cotação do transporte marítimo, os custos de operação e do preço final do produto. Mas sempre que acontece essa disputa, o UKC tem que ser levado em conta. Antônio detalha melhor:

“O afretador tem que confiar no armador (carrier). Se o primeiro diz que afretou o navio para carregar tantas toneladas em 11 metros de calado ao entrar na barra norte, o calado máximo varia, mas suponhamos que seja 11,5. Um navio que poderia entrar com 12, deve entrar ou sair com uma carga reduzida para que obedeça ao calado máximo.”

Ou seja, o Under Keel Clearance é uma medida simples e direta tecnicamente, mas que precisa ser bem aferida e respeitada para a segurança operacional e a otimização de custos. Com inteligência e planejamento, dá para trabalhar com eficiência levando o indicador em conta.

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