Tudo o que você precisa saber sobre o Vale do São Francisco

  • 25/07/2023
  • 23 minutos

O Vale do São Francisco é uma região que recebe esse nome graças à sua posição geográfica. Ele compreende toda a área que margeia o rio São Francisco — curso de água mais importante do Nordeste brasileiro —, passando pelos estados da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

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A bacia do São Francisco ocupa uma área de, aproximadamente, 640.000 quilômetros quadrados e é considerada essencial para o desenvolvimento econômico e da qualidade de vida em toda a região.

Neste artigo, você vai entender melhor os conceitos relacionados ao Vale do São Francisco. Vamos explicar o que é o vale e a sua importância, as principais atividades econômicas da região, o que é a transposição do Rio São Francisco, como funciona o turismo na localidade, entre outros aspectos relevantes sobre o tema.

O QUE É O VALE DO SÃO FRANCISCO?

O Vale do São Francisco compreende toda a região drenada pelo rio São Francisco e afluentes. Majoritariamente localizado nos estados do nordeste, ele se destaca pelo potencial agrícola e pelo turístico. Desde a nascente, em Minas Gerais, até a foz, entre Alagoas e Sergipe, o rio totaliza 2.800 quilômetros de extensão.

Ele é conhecido como Rio da Integração Nacional e tem uma relevância histórica e cultural importante para a região. Desde o início do processo de colonização, o Rio São Francisco foi um dos primeiros cursos de água ocupados e navegados.

Não é por acaso que nos primórdios dos processos de colonização, a produção pecuária começou a ser realizada em suas margens, uma vez que o litoral era ocupado especialmente pela produção de cana de açúcar.

Hoje, o Vale se destaca por ser uma área de produção vitivinícola, além de ser polo de desenvolvimento tecnológico de fruticultura irrigada.

INFRAESTRUTURA DO VALE DO SÃO FRANCISCO

A infraestrutura logística de uma região, em linhas gerais, contempla os serviços e meios disponíveis para deslocamento de pessoas e para a distribuição de mercadorias.

Um local com boa infraestrutura recebe mais investimentos e amplia as possibilidades de crescimento de uma determinada área. Na região do Vale do São Francisco, a infraestrutura física e logística disponível contempla:

  • Ligação rodoviária com as principais capitais da região Nordeste do Brasil;
  • Acesso aéreo pelo Aeroporto Internacional de Petrolina;
  • Hidrovia do São Francisco e o Lago do Sobradinho (maior lago artificial do planeta);
  • Termelétrica com capacidade de gerar 138 megawatts de energia;
  • Eclusas posicionadas estrategicamente na Barragem do Sobradinho.

QUAIS SÃO AS ATIVIDADES ECONÔMICAS DO VALE DO SÃO FRANCISCO?

As principais atividades econômicas do Vale do São Francisco estão ligadas à agricultura e ao turismo.

AGRICULTURA

Por se tratar de uma área fértil que tem se beneficiado pelos investimentos em irrigação, inclusive da esfera pública federal, o vale se tornou um grande produtor nacional de hortaliças e frutas.

Atualmente, a sub-região que mais tem se destacado pelo desenvolvimento agrícola contempla as cidades de Petrolina (Pernambuco) e Juazeiro (Bahia), maior conglomerado urbano do Semiárido e que vem crescendo de maneira expressiva nos últimos anos.

Grande parte da produção agrícola do Vale do São Francisco é exportada utilizando o Porto de Suape (Pernambuco), o Porto de Aratu (Salvador), o Aeroporto Internacional de Petrolina e o Mercado do Produtor (Juazeiro).

Inclusive, é importante destacar que o Mercado do Produtor é o maior entreposto comercial da região Norte Nordeste, por isso tem uma grande relevância na economia nacional.

Quando se fala em produção agrícola não podemos deixar de mencionar a vitivinicultura. O Vale do São Francisco se tornou o segundo maior polo vitivinicultor do país:

  • Produção anual de 7 milhões de litros de vinho;
  • 15% da produção nacional de vinhos vem do Vale;
  • 30% dos vinhos produzidos na região são categorizados como “vinhos finos” com premiações nacionais e internacionais;
  • As vinícolas estão instaladas principalmente nos municípios de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, nem Pernambuco, e Casa Nova, na Bahia.

EMBRAPA

De acordo com informações da Embrapa, a região tem se destacado pelo clima propício para a produção de uvas:

“A área de vinhedos de variedades de Vitis vinifera destinadas à elaboração de vinhos finos na região do Vale do São Francisco totaliza ao redor de 500 ha. A produção de vinhos finos dos estados da Bahia e Pernambuco está concentrada no eixo Petrolina-Juazeiro, em particular nos municípios de Casa Nova, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, no chamado submédio São Francisco.

(…)

Esta região, de clima tropical semiárido, única no Brasil, apresenta temperaturas ao longo do ano que possibilitam que os vinhedos irrigados com a água do rio São Francisco produzam uvas em todos os meses do ano. A região produz os chamados vinhos tropicais, com originalidade e identidade própria da região tropical, distinta do mundo vitivinícola. A região produz vinhos finos tranquilos e espumantes, vinho licoroso e brandy”.

TURISMO

Conhecido pelas suas belíssimas paisagens, o vale também é um destino muito popular entre os turistas, não só brasileiros, mas também estrangeiros.

Repleto de rios, corredeiras, cachoeiras, sítios arqueológicos, cavernas e paredões de pedra, combinados com a vegetação que une cerrado e caatinga, o destino é perfeito para quem quer explorar o Brasil de uma maneira diferente.

Por se tratar de uma região que não “vive do turismo” é interessante observar que as manifestações folclóricas, a culinária e o artesanato denotam grande autenticidade e dialogam com a realidade das pessoas que vivem à beira do rio.

Não houve adaptações em aspectos culturais na região destinados a atender às “necessidades” dos turistas. Pelo contrário: toda a experiência que o turista vive no vale traz uma grande carga de realidade, condizente com a vida e os hábitos de quem vive ali.

Antes de viajar para a região é importante se programar, já que algumas cidades ribeirinhas da bacia do São Francisco não oferecem hospedagem. Por outro lado, há opções como Bom Jesus da Lapa e Paulo Afonso, por exemplo, que oferecem infraestrutura hoteleira para turistas.

Apesar de ainda não estar totalmente desenvolvido, é possível que o crescimento agrícola da região, fruto da transposição do Rio São Francisco, contribua para a expansão das atividades turísticas no local.

QUAL É A IMPORTÂNCIA DO VALE DO SÃO FRANCISCO?

Geograficamente falando, a bacia hidrográfica é imensa, com seus 640.000 quilômetros quadrados, ela equivale à França. Com isso, uma região considerável depende das suas águas para subsistir.

Assim como a Amazônia, o Vale também se destaca por contemplar uma variedade significativa de ambientes naturais, com florestas tropicais, bioma da caatinga e do cerrado.

O volume de água permitiu o fortalecimento da fruticultura. A área é berço da produção de fruticultura irrigada. Frutas como manga e uva são destaque, segundo a Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados), com produção concentrada principalmente nas regiões de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).

O Rio São Francisco é fonte de vida e manutenção das necessidades básicas para as pessoas que vivem no entorno. Ele também é um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento econômico do local.

Por estar localizado no semiárido nordestino, o rio é uma das poucas fontes de água potável abundante, atendendo às necessidades de milhares de pessoas.

O QUE É A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO?

A transposição do Rio São Francisco — também chamada de integração do Rio São Francisco — é um projeto antigo e que vem sendo desenvolvido ao longo de diferentes gestões federais.

O projeto consiste no deslocamento de uma parte das águas do rio São Francisco, criando canais que vão levar água para regiões do interior do Nordeste que não estão próximas do rio e, por isso, não têm acesso a essa água potável.

A transposição beneficia moradores dos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará, que passarão a ter a possibilidade de usufruir da água proveniente do rio. De acordo com o Governo Federal:

“O projeto de Integração do Rio São Francisco é a maior obra de infraestrutura hídrica do País, dentro da Política Nacional de Recursos Hídricos. Com 477 quilômetros de extensão em dois eixos (Leste e Norte), o empreendimento vai garantir a segurança hídrica de 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados do Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, onde a estiagem é frequente”.

Concluída depois de 15 anos e quatro mandatos presidenciais, a transposição é sinônimo de garantia hídrica para regiões que sofreram com a seca durante muitos anos. O Ministério do Desenvolvimento Regional disponibiliza informações atualizadas no site oficial.

VANTAGENS DA TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

Muito se tem falado a respeito da conclusão das obras e dos benefícios que ela de fato vai trazer para a vida das pessoas.

Em fevereiro de 2022, a obra de transposição que contemplava a região do Rio Grande do Norte foi concluída. Segundo estimativas da Secretaria da Agricultura, da Pecuária e da Pesca do RN (Sape), a agricultura irrigada e os agricultores devem se beneficiar com as mudanças. Estima-se um aumento de 5 mil hectares (produção atual) para 10 ou 15 mil hectares.

As cidades do Rio Grande que usam água de transposição são: Apodi, Caraúbas, Felipe Guerra e Governador Dix-Sept Rosado. Nestas cidades, são produzidas frutas e verduras, principalmente abóbora, melão e melancia.

Com uma agricultura mais forte, toda a população se beneficia, já que as cidades podem prosperar. Sob o ponto de vista de produtores rurais, integração do São Francisco é sinônimo de:

  • Aumento das possibilidades em relação ao plantio de novas culturas que podem garantir uma maior rentabilidade aos agricultores;
  • Garantia hídrica;
  • Dinamização da oferta, o que torna o ambiente mais propício para o recebimento de novos investimentos;
  • Transformação de toda a população que vive em áreas beneficiadas pela interposição;
  • Criação de um ambiente favorável para que surjam novas alternativas de obtenção de renda;
  • Aumento das ofertas de crédito para os produtores rurais;
  • Criação de empregos da área de fruticultura de uma forma geral.

O QUE É A HIDROVIA DO SÃO FRANCISCO?

As hidrovias são uma modalidade de transporte de mercadorias. Caracterizadas por serem vias navegáveis, são utilizadas para o transporte de produtos e mercadorias em geral. Via de traga, as hidrovias têm como foco a movimentação de mercadorias com fins comerciais.

Por isso, podemos dizer que elas se conceituam como um meio de transporte aquaviário realizado em lagos e rios. Segundo o Governo Federal, a hidrovia do São Francisco é um modal de transporte de mercadorias importante para a economia nacional:

“A hidrovia do São Francisco é a via mais econômica de ligação entre o Centro-Sul e o Nordeste do País. Com 2.354 km de extensão, a hidrovia se estende pelos rios São Francisco, Paracatu, Grande e Corrente. A Bacia do Rio São Francisco, com 641 mil km² de área, representa cerca de 7,5% do território nacional, e se distribui por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Goiás, e Distrito Federal”.

Não é novidade que o rio São Francisco se destaca quando o assunto é transporte aquaviário brasileiro. Os principais rios desta hidrovia incluem:

  • Rio São Francisco;
  • Rio Abaeté;
  • Rio Paraopeba;
  • Rio Carinhanha;
  • Rio Indaiá;
  • Rio das Velhas;
  • Rio Pará;
  • Rio Jequitaí;
  • Rio Paracatu;
  • Rio Verde Grande.

PRODUTOS EXPORTADOS

Os produtos agrícolas exportados são, em grande parte, transportados via sistema hidroviário do São Francisco. A cadeia logística de transporte é iniciada pelo transporte rodoviário, com a carga trafegando pela via fluvial para, depois, seguir até os portos marítimos, que distribuem os produtos para todo o mundo.

“A hidrovia pode atender ao transporte da produção de grãos e algodão no cerrado a oeste da Bahia e Sul do Piauí, e, também, da cultura de frutas e de cana-de-açúcar irrigada na região do Vale do São Francisco. Bem como de outras atividades importantes, como: a avicultura concentrada no entorno de Feira de Santana/BA, Recife, Caruaru/PE e Fortaleza, bem como os polos minerários: de gipsita em Araripina/PI, que alimenta a indústria do gesso e fornece gesso às culturas agrícolas; e o de calcário agrícola, perto de Ibotirama”.

Como você pode ver, o Vale do São Francisco tem uma importância imensurável para o desenvolvimento econômico e da qualidade de vida das pessoas que vivem na região Norte e Nordeste do país.

Conhecer e valorizar as ações de desenvolvimento econômico ajuda a entender como o país pode crescer a partir da valorização dos recursos naturais e do trabalho, sem que eles sejam vistos como vias antagônicas.

Agora que você já sabe o que é o Vale do São Francisco e a sua relevância, que tal aproveitar para conferir outros conteúdos da Wilson Sons? Saiba quais são as expectativas sobre o futuro do transporte marítimo no Brasil neste artigo especial sobre o tema.