“Vamos levar o Cubo para mares e rios”, diz o CEO Paulo Costa

  • 13/07/2022
  • 9 minutos

Em sua primeira entrevista após assumir o cargo de CEO do Cubo Itaú, Paulo Costa fala sobre o Maritime & Port, mais novo hub de inovação do grupo, que pretende tornar as operações marítimas mais automatizadas, eficientes e sustentáveis

Existem em todo o mundo 500 startups especializadas em novas tecnologias para operações marítimas. Dessas, apenas 15 estão no Brasil. É para mudar esse cenário – e impulsionar a automatização do setor – que o Cubo Itaú decidiu criar o hub Maritime & Port, com foco na inovação do mar.

“Nesses sete anos de mercado, um dos principais aprendizados do Cubo foi que, quando nos concentramos em um tema específico, ganhamos mais profundidade, acesso a talentos e conhecimento”, diz Paulo Costa, em sua primeira entrevista desde que assumiu o posto de CEO do Cubo, com exclusividade para a Época NEGÓCIOS. “É a partir dessa percepção que decidimos criar o Maritime & Port.”

A iniciativa vem se juntar a outros hubs do Cubo, como os dedicados ao agronegócios, às healthtechs, às fintechs, às legaltechs e, mais recentemente, aos negócios ESG. “O nosso propósito é fomentar o empreendedorismo tecnológico no Brasil. Se pensarmos na importância do comércio marítimo para o país, como eu poderia não ter um hub dedicado a isso?”, diz Costa, que concedeu a entrevista ao lado dos quatro parceiros do Cubo no Maritime & Port.

Tecnologia de fora

“Podemos ter poucas startups no Brasil, mas elas vêm desenvolvendo soluções de altíssima qualidade no nosso segmento”, diz Eduardo Valença, diretor de transformação digital da Wilson Sons, que mantém uma parceria com o Cubo desde 2019. “Queremos ajudar a fomentar o desenvolvimento dessas startups, e também de novos empreendimentos.”

Os setores marítimo, portuário e fluvial movimentam cerca de 90% do comércio mundial, segundo a International Chamber of Shipping (ICS). No Brasil, só em 2021, o mercado portuário brasileiro movimentou 1,210 bilhão de toneladas – um crescimento de 4,8% em relação a 2020, de acordo com a ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). E, se depender dos parceiros do novo hub, esse número vai subir ainda mais.

Uma das maiores operadoras integradas de logística portuária e marítima do mercado brasileiro, a Wilson Sons tem outro objetivo em vista: facilitar a incorporação de tecnologias que estão sendo desenvolvidas no exterior. “Ao trazer essas inovações para cá, vamos fazer com que a indústria se torne mais ágil e ainda mais competitiva”, diz Valença. “A Wilson não conseguiria fazer isso sozinha. O Cubo também não. O surgimento do hub vem dessa necessidade em comum.”

Entre as iniciativas atuais da Wilson Sons, estão a modernização da frota, para reduzir as emissões de carbono; a criação de um sistema de navegação que diminua o distanciamento entre os navios; o desenvolvimento de propulsores elétricos, mais econômicos; e a produção de combustíveis alternativos, como o hidrogênio líquido.

“Unir o conhecimento profundo da indústria com a tecnologia emergente que vem das startups é o trunfo desse hub”, diz José Firmo, CEO do Porto de Açu, parte do grupo Prumo Logística. “Quando essas duas coisas se encontram, a inovação aberta acontece.”

Com R$ 20 bilhões já investidos, o Porto de Açu, no município de São João da Barra, no Rio de Janeiro, é o único porto privado do país. Sem depender de investimentos estatais, conseguiu assimilar novas tecnologias, como um sistema eletrônico de gerenciamento de embarcações. “O hub poderá nos conectar a grandes ecossistemas de inovação mundial”, diz Firmo. “Dessa maneira, vamos poder maximizar o uso da tecnologia para aumentar a eficiência, reduzir emissões e fazer a transição energética, fundamental nesse momento da história.”

Startups robustas

O braço tecnológico do Maritime & Port é a Radix, que ajuda grandes empresas a definir os modelos e os processos de inovação mais adequados a seu processo de crescimento. “O segmento portuário tem duas demandas históricas”, diz o CEO João Carlos Chachamovitz. “A primeira é aumentar a eficiência, com redução de custos e de disponibilidade de equipamentos. E a outra é cuidar da segurança, diminuindo os riscos de acidentes. Mais recentemente, apareceu a demanda da sustentabilidade. Trabalhamos nas três frentes.”

Dentro do hub, a Radix quer ser a ponte entre as grandes empresas e as startups. “Podemos ajudar os empreendedores a criarem sua proposta de valor, garantindo que as soluções estejam robustas o bastante para atender o setor industrial. Então esse seria o nosso papel. Queremos muito participar desse ecossistema e ver o que todo mundo está fazendo também.”

No comércio marítimo exterior, o tempo médio de desembaraço aduaneiro é de cerca de 10 horas; no Brasil, são 50. “É preciso mudar isso”, diz Fábio Schettino, CEO da Hidrovias do Brasil, que traz várias provocações para o projeto. “Será que o nosso custo médio de transporte de mercadorias não pode ser reduzido utilizando novas tecnologias?”, diz. Ele faz um cálculo simples para provar que a preferência histórica do país pelas rodovias, em um país com mais de 40 mil quilômetros de rios navegáveis, não faz sentido.

“Se eu disponho apenas de um galão de combustível, qual meio de transporte vai me ajudar mais a transportar uma tonelada de produtos?”, pergunta. “Por caminhão, essa energia transporta a tonelada por 109 quilômetros; na ferrovia, por 374 quilômetros; e, nas hidrovias, por 952 quilômetros. Não há forma mais eficiente, mais ambientalmente amigável e socialmente responsável do que a hidrovia.”

Apesar disso, o país utiliza apenas um terço do seu potencial hidroviário. Um estudo da CNT (Confederação Nacional do Transporte) aponta que, dos 63 mil quilômetros que poderiam ser utilizados, praticamente dois terços são ignorados. “Ainda temos muito que evoluir”, diz Schettino.

Cubo maduro

“Com esse movimento de hubs, conseguimos reunir os parceiros mais experientes e as startups mais competentes em torno de um objetivo em comum”, diz Paulo Costa. Para o CEO, essa fase mais segmentada marca a maturidade do centro de inovação criado em 2015 pelo Itaú e pelo fundo Redpoint eventures.

“Acredito que segmentar tenha sido um movimento natural do Cubo. Agora podemos usar toda a nossa expertise em curadoria de startups para trabalhar essas verticais.” Além disso, diz o novo CEO, é possível fazer um cross entre os hubs: ESG com Agro, Marítmo com LegalTechs… “E isso nos coloca num lugar de muito potencial, em que podemos juntar indústrias diferentes com fatores em comum.” E quais os próximos hubs? Ele não revela. “Só posso dizer que ainda teremos mais dois até o final deste ano”, diz.

Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2022/07/vamos-levar-o-cubo-para-o-mar-diz-o-ceo-paulo-costa.html