Entrevista da Wilson Sons à Revista Portos e Navios
- 20/03/2023
- 23 minutos
Pauta: “Implantação da cultura e de práticas ESG no setor portuário”
Porta-voz: Monica Jaén, diretora de Sustentabilidade da Wilson Sons
Repórter: Bianca Guilherme
ENTREVISTA/PERGUNTAS e RESPOSTAS DA WILSON SONS
(perguntas da Revista Portos e Navios encaminhadas pela repórter)
1 – Como tem sido a estruturação e implantação da cultura ESG no setor
portuário no Brasil?
Monica Jaén: Assim como vários setores relevantes da infraestrutura
brasileira, as questões sociais, ambientais e de governança são inerentes à
atuação do setor portuário, visto que as atividades se desenvolvem em sua
maioria em áreas de concentração populacional, cercadas por ecossistemas de
grande importância, e em negócios amplamente regulados pelas autoridades.
Neste cenário, a gestão ESG já faz parte das empresas do setor portuário,
sendo que muitas, assim como a Wilson Sons, maior operador integrado de
logística portuária e marítima do mercado brasileiro, que passou a negociar
suas ações no Novo Mercado da B3 em 2021, publicam anualmente relatórios
de sustentabilidade com informações econômicas, sociais e ambientais,
ampliando a transparência de seus negócios, utilizando os padrões
estabelecidos pela GRI – Global Report Iniciative.
As empresas passaram a monitorar e orientar suas ações considerando os
aspectos ESG. Temas relacionados com o Ambiental, como controle de
vazamentos para o mar, mudanças climáticas; o Social, como a interação do
porto com a cidade de uma maneira mais harmônica, ou a Governança, como
compliance e canal de denúncias, passaram a integrar as reuniões das
diretorias e dos conselhos.
Existem oportunidades de melhorias, assim como em outros setores,
principalmente para uma melhor estruturação dos temas para avanços do
setor, indo além do cumprimento dos padrões legais estabelecidos.
Vale ainda comentar sobre a evolução das empresas com a adesão às
certificações e as exigências de mercado. A Wilson Sons possui a ISO 14000
de seus terminais de contêineres, bases de apoio offshore e centro logístico
como forma de gestão ambiental e responde voluntariamente ao S&P Global
de Nova Iorque (S&P DOW JONES INDICES, 2022) para medir a sua
performance nos temas ESG e acompanhar as tendências mundiais no tema.
Também de forma voluntária, a Wilson Sons é signatária do Pacto Global
desde 2009.
A companhia participa também como membro do Carbon Disclosure Project
(CDP), iniciativa internacional, sem fins lucrativos, importante para a mitigação
das mudanças climáticas porque funciona como um banco de dados, que
auxilia na medição, gestão e compartilhamento de informações.
Aproximadamente 5.600 organizações e 533 cidades participam da iniciativa
reportando seus dados relacionados ao clima. Houve inclusive um avanço no
desempenho da Wilson Sons nas avaliações externas baseadas nessa
abordagem, de uma nota C em 2021 para B em 2022. A média global em
mudanças climáticas no CDP da categoria a qual somos avaliados (shipping)
também é B, e na América Latina é D. (As notas possíveis no CDP são D-, D,
C-, C, B-, B, A-, A). A melhoria nos resultados foi reflexo principalmente dos
avanços na gestão do risco climático seguindo a metodologia da TCFD (Task
Force on Climate Financial-Related Disclosures).
Em 2022, a Wilson Sons também foi qualificada, pelo segundo ano
consecutivo, com o Selo Ouro no Programa GHG Protocol, que tem o objetivo
de estimular e apoiar corporações na elaboração e publicação de inventários
de emissões de gases do efeito estufa (GEE). A certificação é o mais alto nível
de reconhecimento às empresas que demonstram transparência em seus
inventários voltados para uma agenda de enfrentamento às mudanças
climáticas, sendo concedida às organizações que reportam todas as suas
fontes emissoras e são verificadas por auditoria externa. Há nove anos a
companhia publica, voluntariamente, seu inventário de GEE. Os indicadores
são reportados na plataforma do programa brasileiro GHG Protocol, no site de
notícias Bloomberg e na plataforma global do Carbon Disclosure Project (CDP).
Há muitas iniciativas interessantes, e diversas, mas percebo que o setor pode
contribuir ainda mais para os avanços esperados na pauta ESG no mundo. Um
exemplo é a agenda climática, que tem no transporte marítimo um excelente
aliado para reduzir as emissões de carbono acumuladas nos produtos
exportados pelo Brasil, e que hoje é maior, em função da larga utilização do
transporte rodoviário, mais intensivo em emissões, em detrimento da
navegação de cabotagem.
2 – Podemos dizer que o setor está atrasado em comparação a implantação
em outros países?
Monica Jaén: De uma maneira geral, a Europa tem sido mais ativa nas
questões ESG quando comparamos com outras regiões, refletindo-se na
antecipação de demandas para o setor produtivo, seja no estabelecimento de
parâmetros mais restritivos de emissões atmosféricas, seja através de regras
mais rigorosas para o mercado.
No setor portuário, acho interessante citar, por exemplo, o EcoPorts, criado de
forma independente pelo setor portuário europeu em 1997, iniciativa integrada
à Organização Europeia dos Portos Marítimos desde 2011. O que se buscou
com essa iniciativa dos próprios portos foi evoluir na agenda ambiental,
aumentando a conscientização e gestão para proteção do meio ambiente por
meio da cooperação e compartilhamento de conhecimento entre os portos,
inclusive por meio de certificação voluntária pelo Sistema de Revisão Ambiental
Portuária e o Autodiagnóstico que possui uma lista de verificação de forma que
os portos possam se autoavaliar em relação ao desempenho do setor e aos
padrões internacionais. Essa rede também oferece a possibilidade de obter
análises e interpretações independentes e confidenciais. Hoje possui 103
membros de 25 países europeus.
A Organização Europeia dos Portos Marinhos divulgou também as Top 10
prioridades ambientais para os Portos Europeus em 2022, listadas em ordem
de prioridade: mudanças climáticas, qualidade do ar, eficiência energética,
ruído, qualidade das águas, relacionamento com as comunidades locais,
resíduos dos navios, resíduos dos portos, desenvolvimento portuário e
dragagem.
Neste contexto, acredito que o Brasil tenha também iniciativas alinhadas aos
princípios fundamentais da sustentabilidade de potencializar o impacto positivo
das atividades, reduzir ao mínimo seus reflexos negativos, e contribuir para a
prosperidade das regiões de atuação das empresas. O licenciamento
ambiental, por exemplo, é obrigatório para as obras em área portuária, como
também houve avanços com o Programa de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos e Efluentes nos Portos Marítimos Brasileiros.
A inovação também é uma ferramenta importante para tornar o nosso setor
mais sustentável. No caso da Wilson Sons, desde 2019, somos parceiros do
Cubo Itaú, o mais relevante centro de inovação e fomento ao
empreendedorismo tecnológico da América Latina. Em 2022, com intuito de
fortalecer a agenda de inovação no setor, unimos esforços com o Cubo Itaú, a
Porto do Açu, a Hidrovias do Brasil e a Radix, para lançar o primeiro hub
dedicado de soluções portuárias e de transporte aquaviário da América Latina:
o Cubo Maritime & Port.
Acreditamos que vivemos um momento inédito do setor marítimo e portuário,
em que a adoção de novas tecnologias permitirá tornar as operações nos
portos e o transporte aquaviário de carga cada vez mais eficientes, seguros e
sustentáveis.
3 – Poderia nos dar exemplos dos principais cases de ESG já implementados
nas empresas do setor aqui no Brasil?
Monica Jaén: Na Wilson Son temos muitos casos de sucesso na gestão de
sustentabilidade, como a implantação dos primeiros guindastes sobre rodas
elétricos do Brasil no Tecon Salvador e, posteriormente, no Tecon Rio Grande,
em substituição aos modelos movidos a diesel; o lançamento dos primeiros
rebocadores do País com novo design do casco, que permite maior eficiência
em manobras e a redução de até 14% das emissões de gases de efeito estufa;
e o desempenho de classe mundial em segurança do trabalho pela dss+
(antiga Dupont). Estamos em um ciclo de construção de 6 rebocadores nos
estaleiros da companhia: dois deles já foram entregues em 2022 (o WS
Centaurus e o WS Orion), três serão entregues em 2023 – sendo que o próximo
será batizado de WS Rosalvo – e o último da série no começo de 2024. Esses
rebocadores são os primeiros no Brasil com padrão IMO TIER III, de prevenção
de poluição de navios, estabelecido pela Organização Marítima Internacional.
Entre nossas iniciativas em prol do meio ambiente, está também a Central de
Operações de Rebocadores (COR) da Wilson Sons, localizada em Santos
(SP). A COR monitora em tempo real a frota de 80 rebocadores da companhia,
a maior e mais moderna do Brasil, distribuídos em toda a costa brasileira,
definindo o melhor momento para a movimentação das embarcações, bem
como a velocidade ideal das mesmas, sempre visando a garantir maior
eficiência no consumo de combustível e, consequentemente, a redução de
emissão de gases de efeito estufa.
A Wilson Sons enxerga a tecnologia como aliada da infraestrutura marítima e
portuária e da sustentabilidade no setor, por meio de melhorias operacionais,
da busca por ganhos de eficiência e da produtividade em nossa indústria. Vale
destacar exemplos de três startups em que a companhia é investidora
minoritária, detentoras de tecnologias e soluções relevantes para a
transformação digital da gestão portuária. São elas: a israelense DockTech (faz
mapeamento do leito dos portos para tornar mais eficientes a navegação e a
dragagem), a brasileira Argonáutica (com a ferramenta de calado dinâmico que
otimiza a carga dos navios e a atracação nos terminais) e a britânica AlDrivers
(conversão de veículos e maquinários convencionais em equipamentos
autônomos).
Recentemente, durante a Intermodal South America 2023, realizada em São
Paulo, a Wilson Sons divulgou estudo inédito da companhia que mapeou 528
startups do setor marítimo e portuário no mundo, com soluções que atendam
diretamente a demandas dessa indústria, distribuídas por 45 países em cinco
continentes. De acordo com o estudo, 214 das shiptechs mapeadas (mais de
40% do total) desenvolvem soluções com uso de Big Data & Analytics. E a
Inteligência Artificial/Machine Learning, com 85 startups, fica em segundo entre
as principais tecnologias, à frente de Internet das Coisas (IoT), Sensores &
Monitoramento (83).
4 – Quais os principais efeitos das práticas ESG para empresas do setor
privado?
Monica Jaén: Em um contexto tão integrado quanto o da cadeia logística
internacional, incorporar as questões de sustentabilidade à gestão do setor
portuário torna-se estratégico e essencial para a perenidade das empresas,
pois o desempenho econômico dependerá cada vez mais do equilíbrio entre
todos os temas.
Neste sentido, há uma demanda crescente dos clientes, investidores,
acionistas, financiadores, organizações da sociedade civil, colaboradores,
consumidores, órgãos reguladores, enfim, da sociedade, para todas as etapas
da cadeia produtiva em relação aos temas ambientais, sociais e de
governança.
A B3 tem sido bastante atuante na agenda ESG no sentido também de
compartilhar com as empresas conhecimento e caminhos, divulgando melhores
práticas, lançando no final do ano passado a atualização do guia
“Sustentabilidade e Gestão ASG: Como Começar, Quem Envolver e O Que
Priorizar”.
Há, portanto, a necessidade de identificar e mitigar os riscos que os temas
ESG podem trazer ao negócio, garantindo que a potencial materialização dos
impactos negativos seja evitada ou mitigada. Por exemplo, falando mais uma
vez da agenda climática, será necessário adaptar as instalações portuárias
para continuarem operando num cenário em que se prevê maior frequência e
intensidade de eventos climáticos extremos, como fortes chuvas e ventos, em
função do aumento da temperatura global.
No entanto, a gestão diligente e inovadora em sustentabilidade oferece muitas
oportunidades, desde os ganhos de eficiência pela incorporação de tecnologias
mais limpas, até a oferta de produtos e serviços que ajudam os clientes a
reduzirem os impactos de suas cadeias de valor. Vejo uma vocação enorme do
Brasil para se posicionar com destaque na agenda de sustentabilidade, com
participação relevante do setor portuário.
A chamada economia azul é um conceito ainda pouco explorado de produção
de soluções com melhor desempenho social e ambiental, e mais uma vez
temos o setor podendo contribuir para o desenvolvimento sustentável.
No final do ano passado, por exemplo, a Caterpillar e a Wilson Sons assinaram
um MOU para implementar tecnologias e soluções com o objetivo de reduzir o
impacto ambiental de rebocadores e embarcações offshore. Com o
compromisso de incorporar a sustentabilidade em seus negócios, a Wilson
Sons trabalha com a Caterpillar para adotar novas tecnologias que tenham
impacto positivo na eficiência operacional e reduzam suas emissões de
carbono no longo prazo, como a adoção de combustíveis com baixo teor de
carbono, soluções híbridas e de eletrificação.
É importante também destacar a importância do “S” (de social) da sigla ESG.
Inclusive a partir de uma ação interna sólida nas empresas, provendo o melhor
ambiente de trabalho para nossos colaboradores e compartilhando o
compromisso com a excelência dos serviços prestados aos clientes, bem como
a responsabilidade socioambiental e a inovação, que se destacam na conduta
empresarial da Wilson Sons. Em 2022, a companhia foi premiada como umas
das “Melhores Empresas para Trabalhar no Rio de Janeiro” pelo Great Place to
Work (GPTW), em reconhecimento por suas práticas culturais. A empresa foi
avaliada pela consultoria por todas as suas práticas de acordo com seis pilares:
Valores, Confiança, Inovação por todos, Eficácia da liderança, Resultados do
negócio e Maximização do potencial Humano.
5 – Qual área está mais avançada na implantação das práticas ESG. Público
ou privada?
Monica Jaén: O avanço em sustentabilidade dependerá da atuação efetiva da
sociedade como um todo, de forma colaborativa e convergente para tratar de
temas que invariavelmente são complexos e multidisciplinares. O desafio está
na capacidade de harmonizar as práticas e a velocidade que as diferentes
iniciativas requerem. Seguindo esta lógica, há diferentes papéis para a
consistência das práticas ESG, e o mais importante será buscar harmonia e
efetividade entre os setores público e privado.
O setor privado tem agilidade para implantar iniciativas ESG e o poder público
tem papel relevante para avaliar a abrangência e potencializar os efeitos das
boas práticas, além de exercer uma atuação fundamental na regulamentação
dos temas considerando a visão de longo prazo. O ideal é trabalhar sempre de
forma que todos saiam ganhando, transformando sempre para melhor a
realidade das pessoas.
Gosto de trazer o exemplo da aliança estratégica público-privada da Wilson
Sons e da startup DockTech com a Santos Port Authority (SPA), acelerando o
processo de inovação, em busca de eficiência operacional, com forte pegada
de desenvolvimento sustentável. A DockTech já possui um acordo de
cooperação e cartas de intenção com diversos portos e operadores relevantes,
além da SPA, Porto de Vitória, PortosRio, Praticagem do Rio de Janeiro, Porto
do Açu e Portos RS.
Sobre a Wilson Sons
A Wilson Sons é o maior operador integrado de logística portuária e marítima
do mercado brasileiro, com 185 anos de experiência. A companhia tem
abrangência nacional e oferece soluções completas para mais de 5 mil clientes,
incluindo armadores, importadores e exportadores, indústria de energia
offshore, projetos de energia renovável, setor do agronegócio, além de outros
participantes em diversos segmentos da economia.
Saiba mais em: wilsonsons.com.br
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